A razão pareceu então despertar e, espantada com o que viu feito na sua ausência, tentou pôr termo a semelhantes imprudências; e a mão subitamente passou um traço por as duas últimas palavras, logo depois de escritas.
Carlos levantou-se para passear no quarto.
Principiou então a convencer-se de que tinha de facto sido injusto em formar tão levianamente um conceito pouco favorável da máscara, e menos cavalheiro do que devia, no seu procedimento para com ela. Jenny havia-o repreendido por isso tudo – e Carlos julgou ouvir a própria consciência aplaudindo Jenny.
Chegou a persuadir-se de que tinha remorsos, e pareceu-lhe necessário imaginar alguma maneira de remediar tão grandes culpas.
Ouviu duas horas, ainda a pensar nisto.
Deitou-se vestido sobre o leito; e cada vez a parecer-lhe mais necessária e urgente uma resolução naquele sentido!
Eram três horas, quando julgou ter sono. Deitou-se por baixo da roupa e apagou a luz.
O sossego que o rodeava, um desses sossegos nocturnos, tão completos que até o roer da larva invisível, oculta no seio da madeira, se ouve distintamente, impacientava-o, longe de convidá-lo ao repouso. Quando o espírito está agitado, quando uma ideia qualquer nos inquieta, o silêncio, a tranquilidade exterior parecem-nos um escárnio e irritam-nos.
Em menos de um quarto de hora já a cama estava em desordem e a travesseira no chão. Carlos acendeu de novo a vela, trouxe um livro para a cama e esteve meia hora com ele aberto nas mesmas páginas.
Sentou-se, impaciente, no leito e imaginou que tinha febre.
E assim se conservou até às cinco horas da manhã, que foi somente quando adormeceu, ou antes, se deixou cair exausto por o cansaço que produz a insónia.
E que resultou de tanto pensar? Vê-lo-emos brevemente.