a Antónia da Natividade, não procedia de falta de clareza na redacção da frase.
De uma destas fundas abstracções, tão repetidas naquela manhã em Cecília, veio arrancá-la o toque impetuoso da campainha do portal.
A este som Cecília estremeceu e dirigiu os olhos para o relógio da sala, com um gesto de surpresa. Pouco passava de uma hora; não podia ainda ser o pai que voltasse, e raras vezes outra mão que não a dele fazia assim soar a campainha – muito menos àquelas horas do dia.
A estranheza aumentou e quase degenerou em inquietação e susto com a entrada da criada, cuja fisionomia não era de facto, naquele momento, para tranquilizar ninguém.
A venerável matrona trazia estampado no rosto, vigoroso de expressão, o mais completo espanto.
Cecília, vendo-a, ergueu-se de súbito e fez-se pálida, como se já aguardasse uma má notícia.
– Menina!… menina!… – dizia, a custo, a criada, fora de respiração.
– Jesus! que é, Antónia? que é? – perguntou Cecília, batendo-lhe o coração com tal violência, que parecia despedaçar-lhe o peito.
– Ai que ainda não estou em mim! – continuava a outra.
– Diga, mulher! Diga o que é.
– Ora o que há-de ser! Ai!… Não se assuste… Safa!… Eu sempre fiquei!…
– E não diz!
– Digo, digo, menina. Pois por que não havia de dizer? Para isso vim.
– Pois não parece. Não vê o susto em que estou?
– Susto?! Não é caso disso, sossegue… É que… ai, deixe-me, por amor de Deus, respirar…
Cecília ajuntou as mãos com impaciência.
– É um senhor – disse por fim Antónia – um senhor todo asseado e bonito, que quer… Ai! Sempre se me pregaram umas dores de cabeça!
– Que quer o quê, Antónia?
– Que quer falar à menina.
– A mim! Você que diz, mulher? Isso pode lá ser?
– Tanto pode, que ele lá está.
– Lá! Aonde?
– Na sala das visitas.