Uma Família Inglesa - Cap. 17: XVII - Contas de Carlos com a consciência Pág. 205 / 432

– Pois mandou-o entrar?! Valha-me Deus!

– Então que havia eu de fazer? Se ele procurava a menina… Não, a delicadeza não fica mal a ninguém, sobretudo com pessoas delicadas também. Havia de ver que modos aqueles tão bonitos! Obséquio vai, obséquio vem, senhora para aqui, senhora para ali; não é lá como estes cabouqueiros que às vezes vêm por aí, que julgam que todos foram criados a boroa e caldo verde, como eles. Não, senhora, bem se vê que este é pessoa fina…

– Mas… é impossível. Há engano; não pode ser a mim que ele procura… Você ouviu bem?

– Ouvi, menina, ouvi. Ora que cisma! Graças a Deus não estou tonta de todo. Ia agora deixar entrar assim, sem mais nem menos, um homem pela casa dentro, sem ouvir, sem perguntar… Credo, menina! Melhor conceito faça de mim. Olhem agora! Ora essa não está má! Não, se eu não entendia aquilo, estava bem servida com a minha vida! Por as palavras se entende a gente, e Nosso Senhor nos dê sempre ouvidos para ouvir, olhos para ver e juízo para entender. Amém.

– Está bom, está bom. Já agora não há remédio senão ir ver quem é. E o pai não estar em casa!…

– Ora não temos nenhum ataque de ladrões. Nem que fosse alguma coisa do outro mundo… Se a menina estivesse só, não digo… mas na companhia de uma pessoa de… de representação…

Cecília parecia ainda irresoluta.

Antónia insistiu:

– Então, menina! Olhe que isso até parece mal também. Fazer esperar assim aquele senhor! Afinal não sei de que tem receio. Então se a gente vai a…

– Ora cale-se, mulher, cale-se. Se eu sei o que você tem estado para aí a pregar… – interrompeu-a Cecília, já impaciente. – Que hei-de ir, sei eu. Já que o mal está feito…

– O mal! Ó menina, não me diga isso, por quem é. Então queria que eu…

Cecília, depois de rapidamente se ajeitar ao espelho, voltou as costas à senhora Antónia, e dirigiu-se para a sala onde a criada introduzira a estranha visita, que tanto a estava inquietando.





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