Uma Família Inglesa - Cap. 17: XVII - Contas de Carlos com a consciência Pág. 208 / 432

– E era? – murmurou Cecília, quase receando-se da resposta.

– Pedir-lhe perdão, minha senhora.

– Perdão!…

Cecília sentiu o atordoamento precursor da vertigem, ao ouvir aquelas palavras.

– Sei tudo, minha senhora – prosseguiu Carlos – e acredite que tenho sinceros remorsos de não haver adivinhado logo; nunca senti assim o efeito das minhas leviandades.

– Mas… sabe… o quê, senhor? – balbuciou Cecília, como se tentasse ainda duvidar do que era já certeza para ela.

– Não me quer poupar ao desgosto de recordar uma cena, em que eu fui culpado?

– Pois Jenny disse-lhe? – exclamou, quase involuntariamente, Cecília, como falando consigo mesma. E os olhos brilharam-lhe de lágrimas, prestes a desprenderem-se pelas faces.

Carlos atalhou-a:

– Não, minha senhora; Jenny não foi indiscreta. O acaso revelou-me tudo o que eu, desde aquela noite, tanto desejava saber. Minha irmã apenas me fez compreender bem toda a pouca delicadeza do meu procedimento e a necessidade de uma justificação; é essa que venho aqui oferecer-lhe. V. Ex.a tem direito a ela, como o teria Jenny e como eu o exigiria de quem tratasse minha irmã… tão grosseiramente, como eu tratei V. Ex.a.

– Mas, Sr. Carlos, toda a culpa tive-a eu…

– Não diga isso! Insistir em não me reconhecer culpado é apenas uma maneira delicada de recusar-me o perdão que, de propósito, vim aqui implorar-lhe.

Cecília não respondeu; Carlos prosseguiu:

– V. Ex.a é a melhor amiga de Jenny; ela mesma, ontem, mo disse. Peço-lhe que me não julgue indigno da sua amizade também, minha senhora. Eu suponho-me igualmente o melhor amigo de minha irmã. Duas pessoas que têm assim a estima de um anjo, como aquele, devem estimar-se uma à outra; não lhe parece?

– Mas eu, Sr. Carlos, nunca tive motivos para… não tenho direito para deixar de… estimá-lo.





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