Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 17: XVII - Contas de Carlos com a consciência

Página 207
escadas, de mau humor, resmungando:

– Olhem agora o peralvilho! Ora já viram! Louvado seja Deus! Sempre há gente neste mundo! Que não vá eu descobrir o grande segredo! Melhores barbas do que as dele têm confiado na filha de meu pai. O Sr. Doutor Raposo, um letrado de mão cheia… pois não punha nenhuma aquela em falar diante de mim dos seus autos e demandas. Servi três anos o Doutor Dionísio, e, depois de jantar, contava-me tudo o que via e ouvia por casa das famílias onde tratava de médico. E, graças a Deus! nunca tiveram de se arrepender disso. Está para nascer o primeiro que tenha razão de queixa da minha língua… Olha agora… O lerma, o magricelas, o dois de paus…

E procurando parodiar burlescamente os modos de Carlos:

– «Tem dúvida, minha senhora, em me escutar a sós?!…» Tem dúvida, tem sim, senhor; e então que acha?… Ou, se não tem, devia ter… Então escuta-se assim um criancelho, um homem que nem põe a navalha na cara, sem estar presente uma pessoa de juízo? Hem? – E ela então: «Saia!». Gosto disto! «Saia»; não que ele não há mais «Saia». Não sai, não, senhora, não sai assim com essa pressa. Ora ai está… Ou se sai é porque… é porque… é por a gente querer viver bem com todos; é o que é… não é por mais nada!

A palinódia prolongou-se nesta afinação; e a reputação de Carlos ficou de rastos no conceito da senhora Antónia.

Logo depois de se perder nas escadas o som dos passos de Antónia, Cecília, trémula e confusa, continuou:

– Não posso ainda imaginar a que devo a honra…

Carlos não a deixou prosseguir.

– Perdão, minha senhora, V. Ex.a deve supor qual o fim que me levou a solicitar este favor…

– Eu?! – perguntou Cecília, a tremer.

– Sim, minha senhora – continuou Carlos. – se V. Ex.a me conhecesse, se tivesse aprendido a fazer-me justiça, devia prever, ao ver-me entrar hoje aqui, em sua casa, que só um motivo me podia trazer.

<< Página Anterior

pág. 207 (Capítulo 17)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 207

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432