escadas, de mau humor, resmungando:
– Olhem agora o peralvilho! Ora já viram! Louvado seja Deus! Sempre há gente neste mundo! Que não vá eu descobrir o grande segredo! Melhores barbas do que as dele têm confiado na filha de meu pai. O Sr. Doutor Raposo, um letrado de mão cheia… pois não punha nenhuma aquela em falar diante de mim dos seus autos e demandas. Servi três anos o Doutor Dionísio, e, depois de jantar, contava-me tudo o que via e ouvia por casa das famílias onde tratava de médico. E, graças a Deus! nunca tiveram de se arrepender disso. Está para nascer o primeiro que tenha razão de queixa da minha língua… Olha agora… O lerma, o magricelas, o dois de paus…
E procurando parodiar burlescamente os modos de Carlos:
– «Tem dúvida, minha senhora, em me escutar a sós?!…» Tem dúvida, tem sim, senhor; e então que acha?… Ou, se não tem, devia ter… Então escuta-se assim um criancelho, um homem que nem põe a navalha na cara, sem estar presente uma pessoa de juízo? Hem? – E ela então: «Saia!». Gosto disto! «Saia»; não que ele não há mais «Saia». Não sai, não, senhora, não sai assim com essa pressa. Ora ai está… Ou se sai é porque… é porque… é por a gente querer viver bem com todos; é o que é… não é por mais nada!
A palinódia prolongou-se nesta afinação; e a reputação de Carlos ficou de rastos no conceito da senhora Antónia.
Logo depois de se perder nas escadas o som dos passos de Antónia, Cecília, trémula e confusa, continuou:
– Não posso ainda imaginar a que devo a honra…
Carlos não a deixou prosseguir.
– Perdão, minha senhora, V. Ex.a deve supor qual o fim que me levou a solicitar este favor…
– Eu?! – perguntou Cecília, a tremer.
– Sim, minha senhora – continuou Carlos. – se V. Ex.a me conhecesse, se tivesse aprendido a fazer-me justiça, devia prever, ao ver-me entrar hoje aqui, em sua casa, que só um motivo me podia trazer.