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Capítulo 17: XVII - Contas de Carlos com a consciência

Página 209

– Perdoa-me portanto?

Cecília guardou por algum tempo silêncio; depois, fazendo esforço sobre si mesma, disse com vivacidade:

– Sr. Carlos, não falemos mais nisto, peço-lhe… Esqueçamos tudo, como se tivesse sido um sonho… mau.

E terminando assim o pensamento, baixou os olhos, como desfalecida pela violência da luta que sustentara.

Carlos não replicou imediatamente. Houve um silêncio de alguns segundos, incómodo para ambos; enfim, olhando para Cecília:

– Esquecer! – disse Carlos, de uma maneira que parecia mostrar não lhe ser demasiado grata a proposta, e depois acrescentou: – Pois sim… Esqueçamos, visto que assim o quer. Mas eu tenho a esquecer, arrependendo-me; já o fiz; V. Ex.a, perdoando; porque recusa fazê-lo? Perdoa?

Cecília ia de novo negar-se a admitir-lhe a culpa, mas, erguendo os olhos, viu Carlos que lhe estendia a mão e, sem bem entender o que fazia, estendeu também a sua, murmurando:

– Perdoo.

Quando, reflectindo, a quis retirar, e juntamente a palavra, já não era tempo.

Logo que ouviu de Cecília o perdão, que viera de propósito solicitar ali, Carlos levantou-se.

– Obrigado, minha senhora – disse ele. – Cumpri o meu dever; agora parto satisfeito.

A pobre rapariga não podia responder mais nada; se ainda lhe estava parecendo um sonho tudo aquilo!

– Mais duas palavras só – disse ainda Carlos, pegando no chapéu. – Quando V. Ex.a chegou, não estava eu aqui dentro; reparou? Nesse momento, minha senhora, acabava de fazer uma singular descoberta.

– Uma descoberta?!

– Muito singular. Há poucos dias – continuou Carlos, aproximando-se da janela, junto da qual estava já Cecília – passeava eu naqueles pinheirais… acolá. Meditava… nem posso bem dizer em quê. Não sei de que maneira me atraiu a vista, e depois me ocupou a imaginação, uma casa, que avistei dali.

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pág. 209 (Capítulo 17)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 209

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432