– Perdoa-me portanto?
Cecília guardou por algum tempo silêncio; depois, fazendo esforço sobre si mesma, disse com vivacidade:
– Sr. Carlos, não falemos mais nisto, peço-lhe… Esqueçamos tudo, como se tivesse sido um sonho… mau.
E terminando assim o pensamento, baixou os olhos, como desfalecida pela violência da luta que sustentara.
Carlos não replicou imediatamente. Houve um silêncio de alguns segundos, incómodo para ambos; enfim, olhando para Cecília:
– Esquecer! – disse Carlos, de uma maneira que parecia mostrar não lhe ser demasiado grata a proposta, e depois acrescentou: – Pois sim… Esqueçamos, visto que assim o quer. Mas eu tenho a esquecer, arrependendo-me; já o fiz; V. Ex.a, perdoando; porque recusa fazê-lo? Perdoa?
Cecília ia de novo negar-se a admitir-lhe a culpa, mas, erguendo os olhos, viu Carlos que lhe estendia a mão e, sem bem entender o que fazia, estendeu também a sua, murmurando:
– Perdoo.
Quando, reflectindo, a quis retirar, e juntamente a palavra, já não era tempo.
Logo que ouviu de Cecília o perdão, que viera de propósito solicitar ali, Carlos levantou-se.
– Obrigado, minha senhora – disse ele. – Cumpri o meu dever; agora parto satisfeito.
A pobre rapariga não podia responder mais nada; se ainda lhe estava parecendo um sonho tudo aquilo!
– Mais duas palavras só – disse ainda Carlos, pegando no chapéu. – Quando V. Ex.a chegou, não estava eu aqui dentro; reparou? Nesse momento, minha senhora, acabava de fazer uma singular descoberta.
– Uma descoberta?!
– Muito singular. Há poucos dias – continuou Carlos, aproximando-se da janela, junto da qual estava já Cecília – passeava eu naqueles pinheirais… acolá. Meditava… nem posso bem dizer em quê. Não sei de que maneira me atraiu a vista, e depois me ocupou a imaginação, uma casa, que avistei dali.