Uma Família Inglesa - Cap. 17: XVII - Contas de Carlos com a consciência Pág. 209 / 432

– Perdoa-me portanto?

Cecília guardou por algum tempo silêncio; depois, fazendo esforço sobre si mesma, disse com vivacidade:

– Sr. Carlos, não falemos mais nisto, peço-lhe… Esqueçamos tudo, como se tivesse sido um sonho… mau.

E terminando assim o pensamento, baixou os olhos, como desfalecida pela violência da luta que sustentara.

Carlos não replicou imediatamente. Houve um silêncio de alguns segundos, incómodo para ambos; enfim, olhando para Cecília:

– Esquecer! – disse Carlos, de uma maneira que parecia mostrar não lhe ser demasiado grata a proposta, e depois acrescentou: – Pois sim… Esqueçamos, visto que assim o quer. Mas eu tenho a esquecer, arrependendo-me; já o fiz; V. Ex.a, perdoando; porque recusa fazê-lo? Perdoa?

Cecília ia de novo negar-se a admitir-lhe a culpa, mas, erguendo os olhos, viu Carlos que lhe estendia a mão e, sem bem entender o que fazia, estendeu também a sua, murmurando:

– Perdoo.

Quando, reflectindo, a quis retirar, e juntamente a palavra, já não era tempo.

Logo que ouviu de Cecília o perdão, que viera de propósito solicitar ali, Carlos levantou-se.

– Obrigado, minha senhora – disse ele. – Cumpri o meu dever; agora parto satisfeito.

A pobre rapariga não podia responder mais nada; se ainda lhe estava parecendo um sonho tudo aquilo!

– Mais duas palavras só – disse ainda Carlos, pegando no chapéu. – Quando V. Ex.a chegou, não estava eu aqui dentro; reparou? Nesse momento, minha senhora, acabava de fazer uma singular descoberta.

– Uma descoberta?!

– Muito singular. Há poucos dias – continuou Carlos, aproximando-se da janela, junto da qual estava já Cecília – passeava eu naqueles pinheirais… acolá. Meditava… nem posso bem dizer em quê. Não sei de que maneira me atraiu a vista, e depois me ocupou a imaginação, uma casa, que avistei dali.





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