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Capítulo 17: XVII - Contas de Carlos com a consciência

Página 208

– E era? – murmurou Cecília, quase receando-se da resposta.

– Pedir-lhe perdão, minha senhora.

– Perdão!…

Cecília sentiu o atordoamento precursor da vertigem, ao ouvir aquelas palavras.

– Sei tudo, minha senhora – prosseguiu Carlos – e acredite que tenho sinceros remorsos de não haver adivinhado logo; nunca senti assim o efeito das minhas leviandades.

– Mas… sabe… o quê, senhor? – balbuciou Cecília, como se tentasse ainda duvidar do que era já certeza para ela.

– Não me quer poupar ao desgosto de recordar uma cena, em que eu fui culpado?

– Pois Jenny disse-lhe? – exclamou, quase involuntariamente, Cecília, como falando consigo mesma. E os olhos brilharam-lhe de lágrimas, prestes a desprenderem-se pelas faces.

Carlos atalhou-a:

– Não, minha senhora; Jenny não foi indiscreta. O acaso revelou-me tudo o que eu, desde aquela noite, tanto desejava saber. Minha irmã apenas me fez compreender bem toda a pouca delicadeza do meu procedimento e a necessidade de uma justificação; é essa que venho aqui oferecer-lhe. V. Ex.a tem direito a ela, como o teria Jenny e como eu o exigiria de quem tratasse minha irmã… tão grosseiramente, como eu tratei V. Ex.a.

– Mas, Sr. Carlos, toda a culpa tive-a eu…

– Não diga isso! Insistir em não me reconhecer culpado é apenas uma maneira delicada de recusar-me o perdão que, de propósito, vim aqui implorar-lhe.

Cecília não respondeu; Carlos prosseguiu:

– V. Ex.a é a melhor amiga de Jenny; ela mesma, ontem, mo disse. Peço-lhe que me não julgue indigno da sua amizade também, minha senhora. Eu suponho-me igualmente o melhor amigo de minha irmã. Duas pessoas que têm assim a estima de um anjo, como aquele, devem estimar-se uma à outra; não lhe parece?

– Mas eu, Sr. Carlos, nunca tive motivos para… não tenho direito para deixar de… estimá-lo.

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pág. 208 (Capítulo 17)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 208

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432