Uma Família Inglesa - Cap. 18: XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos Pág. 215 / 432

– Ah! Charles, Charles! Essa tua cabeça!… – disse Jenny a meia voz e com inflexão benignamente repreensiva.

– Então – tornou-lhe Carlos, com modos de ligeiro enfado. – Não fiz bem? Não era esse o meu dever? Eu esperava até que me aplaudisses a acção e tu…

A estas palavras Jenny não pôde reprimir um movimento de impaciência; arredou a costura em que trabalhava, tomou as mãos de Carlos e, fitando nos dele os olhos límpidos e serenos, como céu de Primavera, perguntou-lhe com um meio sorriso:

– Fala-me a verdade, Charles. A verdade só, entendes? Para que procuraste tu Cecília?

– Que pergunta! Pois não te disse já? Não era do meu dever?…

– Não, não era. Melhor seria fingires sempre que ignoravas tudo, do que dares àquela pobre menina motivo para corar na tua presença. Esse acto, que dizes eu devia aplaudir, não partiu do teu coração, que é muito bom e muito generoso, partiu mas foi desta cabeça – e pousava-lhe a mão na fronte; – desta cabeça, que é uma estouvada.

– És injusta desta vez, Jenny.

– Não sou. Quero acreditar que te iludisses a ti próprio; mas, se pensares melhor, verás que tenho razão. Ontem, ao saíres do teatro, estavas triste. Bem o senti. E porque estavas triste? Eram remorsos pela má opinião que tinhas formado de quem te merecia somente respeitos, que não tiveste?

– Eram.

– Não eram, Charles, não eram. Para que procuras tu enganar-me? Não eram. Tu somente lamentas o fim de uma aventura, à qual tinhas imaginado mais longa duração. O carácter da pessoa, de que se tratava, mostrava-te, depois que a conheceste, que eram sem fundamento as tuas esperanças, e tu então…

– Jenny!

– Para que o queres negar? Olha que eu tenho a vaidade, e o orgulho também, de saber ler nos teus pensamentos. Há muito o aprendi e tu mesmo me auxiliaste.





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