Uma Família Inglesa - Cap. 18: XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos Pág. 216 / 432

Carlos baixou os olhos e principiou a torcer maquinalmente a corrente do relógio.

Desde este momento a vitória era de Jenny. Ela compreendeu e prosseguiu:

– Depois a imaginação, essa travessa imaginação que nós ambos conhecemos, pôs-se a trabalhar. Ela não podia resignar-se a ver terminar tão depressa o romance, que fantasiara tão longo, e lidou, e lidou, e apesar de te recolheres ontem mais cedo, não durou a tua vigília menos do que a daquela célebre noite do Carnaval; não é verdade? Confessa. E o coração a dizer-te, muito baixo, que devias.… que era mais generoso deixar acabar tudo ali, e a imaginação a criar dificuldades, a inventar deveres, a entreter-te de não sei que pontos de honra muito exigentes; e então o coração, o pobre coração, que cada vez ia perdendo mais terreno, a lembrar-te que pelo menos consultasses tua irmã, Charles, e a outra, a má, nem isso te concedeu; provou-te a vantagem de me ocultares tudo! Tinha medo que eu pudesse dissuadir-te! E tu a obedeceres à imaginação, e a levantares-te, a partires, a procurares Cecília, e a pedir-lhe um perdão de criança, que em outras circunstâncias te faria rir, e a pobre menina a conceder-to, sem bem saber o que fazia. Confessa, Charles, confessa, a verdade disto.

Carlos não pôde disfarçar um sorriso e, levando aos lábios a mão que a irmã pousara na sua, murmurou:

– Feiticeira!

Jenny sorriu também.

– Na verdade! – prosseguiu ela, daí a pouco – é uma forte imaginação essa tua, que tanta coisa consegue de ti! E contudo… – acrescentou, cobrindo-se de repente de mais seriedade – e contudo eu prefiro ainda dirigir-me ao teu coração, que também é forte, porque é muito sensível e muito generoso e que há-de poder vencer; não é verdade? É a ele que vou falar, Charles, e espero que serei escutada.





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