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Capítulo 18: XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos

Página 216

Carlos baixou os olhos e principiou a torcer maquinalmente a corrente do relógio.

Desde este momento a vitória era de Jenny. Ela compreendeu e prosseguiu:

– Depois a imaginação, essa travessa imaginação que nós ambos conhecemos, pôs-se a trabalhar. Ela não podia resignar-se a ver terminar tão depressa o romance, que fantasiara tão longo, e lidou, e lidou, e apesar de te recolheres ontem mais cedo, não durou a tua vigília menos do que a daquela célebre noite do Carnaval; não é verdade? Confessa. E o coração a dizer-te, muito baixo, que devias.… que era mais generoso deixar acabar tudo ali, e a imaginação a criar dificuldades, a inventar deveres, a entreter-te de não sei que pontos de honra muito exigentes; e então o coração, o pobre coração, que cada vez ia perdendo mais terreno, a lembrar-te que pelo menos consultasses tua irmã, Charles, e a outra, a má, nem isso te concedeu; provou-te a vantagem de me ocultares tudo! Tinha medo que eu pudesse dissuadir-te! E tu a obedeceres à imaginação, e a levantares-te, a partires, a procurares Cecília, e a pedir-lhe um perdão de criança, que em outras circunstâncias te faria rir, e a pobre menina a conceder-to, sem bem saber o que fazia. Confessa, Charles, confessa, a verdade disto.

Carlos não pôde disfarçar um sorriso e, levando aos lábios a mão que a irmã pousara na sua, murmurou:

– Feiticeira!

Jenny sorriu também.

– Na verdade! – prosseguiu ela, daí a pouco – é uma forte imaginação essa tua, que tanta coisa consegue de ti! E contudo… – acrescentou, cobrindo-se de repente de mais seriedade – e contudo eu prefiro ainda dirigir-me ao teu coração, que também é forte, porque é muito sensível e muito generoso e que há-de poder vencer; não é verdade? É a ele que vou falar, Charles, e espero que serei escutada.

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pág. 216 (Capítulo 18)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 216

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432