Uma Família Inglesa - Cap. 18: XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos Pág. 217 / 432

– Fala, Jenny, fala. Aconselha-me. Bem sabes que há muito te tenho pelo meu anjo bom. Fala – disse Carlos, afectuosamente.

– Ora diz-me, Charles – continuou Jenny, cada vez mais comovida: – Não imaginas o que pode resultar dessa tua fantasia, a deixares-te assim arrastar por ela? Cecília até hoje tem sido feliz. No passado não tinha nada que a envergonhasse ou que lhe desse pena; no futuro não antevia nuvem que de longe a ameaçasse. Era uma vida aquela tranquila e serena, como não imaginas. Mas Cecília tem dezoito anos, Charles, e um coração cheio de confiança e uma imaginação… um pouco à semelhança da tua… Conheço-a a ela também. Se alguma vez se apoderar daquele bom espírito qualquer ideia, se passar uma hora a acalentar qualquer ilusão, acredita que já não será sem esforço, e sem dor, que a arrancará de si. E diz-me, Charles: a tua consciência, que é justa, não havia de querer mal, e muito, à tua fantasia, que é uma enganadora, se ela fizesse, com seus conselhos, nascer essa ilusão, obrigando-te a sacrificar ao capricho de uma manhã o futuro inteiro de uma existência?

– Mas de que maneira imaginas tu esse sacrifício? – interrogou Carlos, levantando os olhos para a irmã.

– De que maneira? Pois diz-me: se Cecília, que podia esquecer aquela cena do baile e todas as suas consequências, principiasse, depois da tua visita, a pensar mais nela? Se, sabendo-te senhor de um segredo seu, principiasse a… a pensar mais em ti? Se, corando na tua presença, de acanhamento ao princípio, pouco a pouco… quem sabe lá?… viesse a corar… de comoção… de… de amor?…

E, ao pronunciar esta palavra, as faces de Jenny tingiram-se de demasiado carmim.

Carlos, sorriu, vendo-o.

– Tu ris, Charles? É porque estranhas em mim estas palavras, ou por supores infundados os meus receios? Em qualquer dos casos não tens razão.





Os capítulos deste livro