E, com este intento, dirigiu-se para a sacristia, deixando sem cerimónia Carlos na presença de Cecília.
Precisarei de dizer que este inesperado e involuntário encontro enleou sobremaneira os dois? Fala-se muito dos embaraços de uma primeira entrevista. Não serei eu que os negue; quer-me, porém, parecer que a segunda é ainda mais difícil de sustentar, quando a primeira não foi de todo insignificante.
O que é verdade é que a imaginação de Carlos não lhe sugeriu uma só palavra que dissesse.
Nem sequer falou no tempo! Cecília não foi mais eloquente, fixou os olhos na porta da igreja, por onde desaparecera o pai, e emudeceu.
Nisto uma velha mendiga, destas que nunca faltam à porta das igrejas ao findar a missa, aproximou-se deles, coxeando e gemendo.
– Meu rico senhor – disse ela dolentemente a Carlos – tenha compaixão desta velhinha, que já não o pode ganhar.
Carlos não lhe dava atenção.
A velha insistiu:
– Ora dê, dê, meu fidalgo; e que Nosso Senhor o veja dar.
– Não pode ser – disse distraidamente Carlos.
A velha recorreu a Cecília.
– Minha linda menina, peça-lhe que me dê uma esmolinha, peça; e que Nosso Senhor os faça a ambos felizes, já que tão bem os talhou um para o outro.
Cecília tentou sorrir, mas a confusão obrigou-a a baixar os olhos; Carlos, não menos confuso também com o equívoco da mendiga, tirou do bolso uma moeda de prata e deu-lha, dizendo:
– Aí tem; e vá com Deus, mulher.
Mas a mendiga entendeu que não devia suprimir assim as competentes e difusas fórmulas da sua gratidão.
– Ora Nosso Senhor os faça muito felizes e os deixe viver muito tempo na companhia um do outro, já que tão bem os juntou! Coitadinhos! Eu hei-de rezar muito ao Senhor para que os abençoe e os tenha a ambos na Sua divina guarda.