Se ela soubesse que já não era com estes meios brandos que havia de vencer!
No primeiro domingo, depois destas cenas, Carlos que, com toda a diplomacia, soubera de Manuel Quintino ser a Cedofeita que ele e a filha costumavam ir à missa, rompeu com os deveres de protestante e aproximou-se da porta daquele vetusto templo católico, às horas a que sabia dever terminar ali o ofício divino.
Passeava na alameda lateral com toda a resolução de se fazer desta vez notado.
Mas, ao sair a primeira gente da igreja, apoderou-se dele a costumada timidez e, já com receio de ser percebido, foi encostar-se ao portão de ferro do cemitério contíguo, por não ter tempo de ir mais longe.
Serviu-o mal a inspiração; – mal e bem ao mesmo tempo; porque, ainda naquele momento, havia no espírito de Carlos o mesmo antagonismo de aspirações, que era, havia dias, o seu estado habitual.
Coincidia com o receio de ser visto a vontade de ser descoberto. Não pode haver lógica na expressão, quando falta o objecto que se exprime.
É certo, porém, que Manuel Quintino, saindo da igreja com a filha, encaminhou-se para o cemitério.
Naquele cemitério repousava a mãe de Cecília, e raro era o domingo em que Manuel Quintino, depois da missa, não ia orar ali, junto da sepultura da esposa.
Quando Carlos percebeu a direcção que eles seguiam, era tarde para retirar-se. Manuel Quintino já o tinha visto; Cecília também.
O pai sorriu-lhe com familiaridade; Cecília corou, ao corresponder ao acanhado cumprimento de Carlos.
– Então veio orar pelos mortos? – disse Manuel Quintino, com malícia.
Carlos encetou vagas explicações da sua presença ali.
– Pois se veio orar pelos mortos, achou companhia – continuou o velho –; que eu, infelizmente, tenho aqui por quem o faça.