Uma Família Inglesa - Cap. 19: XIX - Agravam-se os sintomas Pág. 230 / 432

Adeus, meu senhor, adeus; adeus, minha senhora. Nosso Senhor Jesus Cristo os há-de sempre ver do céu e dar-lhes a felicidade que desejam. Ora coitadinhos!… Padre Nosso, que estais no Céu…

Carlos e Cecília viram-na afastar-se e sorriam, sem olhar um para o outro, e sem saberem bem o que dissessem. Voltou Manuel Quintino e nenhum lhe referiu o caso, que com certeza o faria rir.

Este silêncio é, no meu entender, de máxima significação.

Carlos acompanhou Manuel Quintino e Cecília até à modesta campa, sobre a qual um nome, uma data e muitas flores marcavam o lugar onde jazia a que os dois ainda então choravam com saudade. Ao chegarem ali, Cecília ajoelhou e recolheu-se por algum tempo em oração piedosa; Manuel Quintino, de pé, encostado à grade, orava também.

O contágio daquela comoção apoderava-se da alma de Carlos. Não sabia ele igualmente o que era ser órfão de mãe?

Duas almas, que receberam, ainda em plena infância, a precoce provação desta dolorosa experiência, devem entrar mais rápidas em inteligência de afectos. Há um laço invisível a prendê-las já.

Quando no templo, ou junto de uma campa, uma se enleva na oração, a piedade filial da outra adivinha todas as palavras daquela prece, ressente todas as angústias daquela dor.

Calado, triste, fitou Carlos os olhos na simpática figura de mulher que orava assim, e quase se sentiu impelido a ajoelhar-se-lhe ao lado e a orar também.

Ao erguer-se, encontrou Cecília os olhos de Carlos, ainda fitos nela. Havia tanta sincera compaixão impressa naquele olhar, tanta dessa simpatia que desvanece hesitações e inspira confiança que, pela primeira vez, Cecília ousou olhá-lo de face, dizendo-lhe com gesto de gratidão e comovida:

– Trouxemo-lo a um triste lugar, Sr. Carlos. Perdoe-me se lhe não poupei o espectáculo, pouco de alegrar, das orações de uma filha junto do túmulo de sua mãe.





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