A primeira diversão operou-a só à vista do mercado de peixe, na Ribeira.
As lanchas valboeiras tinham, naquele instante, chegado ao cais. As regateiras, os compradores particulares e os pescadores que vendiam animavam o mercado com movimento e vozearia.
Este espectáculo, cheio de vida comercial, não achou indiferente Manuel Quintino. Agradava-lhe aquele tráfego; examinava com os olhos conhecedores a excelência do peixe, e informava-se curioso dos preços que regulavam o mercado. Ao sair dali, ia pensando:
– Não há nada para o arranjo doméstico como a pescada. É o peixe mais inocente que há. Com razão lhe chamam a galinha do mar. Aí está a sardinha, que é gostosa; mas é mais doentia também. Que a sardinha de Espinho ainda não tanto, mas esta da barra!… De onde virá a diferença?… Pois não será toda ela o mesmo peixe?… Só se é da praia aqui ser mais pedregosa e o peixe sair mais batido. Que esta costa da Foz sempre é muito cheia de pedras!… Só o perigo que correm as embarcações aqui!… Ainda no outro dia, aquela grande desgraça dos oito pescadores que naufragaram!… Muita pena teve Cecília, quando as folhas contaram de um que deixou uma criancinha órfã! Pobre Cecília!… Tem um coração!… Coitada!… É um anjo… Assim que me lembro daquela tristeza em que anda…
E aí estava a ideia fixa com ele! Parece que ela própria fora a que dispusera esta fileira de ideias associadas, para conduzir a si o pensamento.
A impressão produzida pelo mercado desvanecera-se de todo; Manuel Quintino prosseguiu no passeio, já outra vez melancólico.
Mais adiante, tendo passado a última casa que lhe tolhia a vista do rio e a margem oposta, volveu naturalmente os olhos para o vulto escalvado e sombrio da Serra do Pilar, coroada pelo seu convento em ruínas e a sua igreja circular.