Mas o pensamento humano, quando deveras tomado por uma ideia fixa, em vão se esforça por arrancá-la de si; em vão se desvia em direcções diversas; um como pendor natural o faz voltar de novo a ela. Pode-se, de alguma sorte, compará-lo a estes dados falsificados que, qualquer que seja a maneira por que se arrojem à mesa, mostram sempre aos olhos a mesma face, em virtude da desigual distribuição de massa na sua espessura. – Os fenómenos de equilíbrio moral parece obedecerem a leis comparáveis às do equilíbrio físico. – A estabilidade do pensamento está intimamente dependente da proporcional intensidade das ideias que sobre ele actuam. Agitem um pensamento e deixem-no depois entregue a si, sem novas causas a solicitá-lo; a ideia mais grave lhe determinará a posição de equilíbrio; para que esta se possa indiferentemente verificar em qualquer sentido, é necessário que todas as ideias o solicitem com força igual – fenómeno só próprio dos espíritos fátuos.
Como vimos, Manuel Quintino não pensava por aquele tempo senão na tristeza da filha, tristeza por ele suposta prelúdio de doença, que cedo a viria disputar ao seu amor. Durante toda a tarde não houve corrente de pensamentos, suscitados pelos objectos que via, que afinal de contas não terminasse naquele.
Sempre que Manuel Quintino empreendia um passeio, com o fim de se distrair, não hesitava na escolha do itinerário. Desde tempos imemoriais adoptara um e nem lhe passava por o sentido modificá-lo. Deixava-se conduzir por o hábito nisto, como em tudo mais. Atravessava a cidade até à Ribeira; seguia depois, pela margem direita do rio, até Campanhã; chegando ao Esteiro, tomava pela estrada acima, que o levava ao Jardim de S. Lázaro e, enfim, recolhia a casa.
Foi o que fez naquela tarde.