Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 20: XX - Manuel Quintino procura distracções

Página 238

Mas o pensamento humano, quando deveras tomado por uma ideia fixa, em vão se esforça por arrancá-la de si; em vão se desvia em direcções diversas; um como pendor natural o faz voltar de novo a ela. Pode-se, de alguma sorte, compará-lo a estes dados falsificados que, qualquer que seja a maneira por que se arrojem à mesa, mostram sempre aos olhos a mesma face, em virtude da desigual distribuição de massa na sua espessura. – Os fenómenos de equilíbrio moral parece obedecerem a leis comparáveis às do equilíbrio físico. – A estabilidade do pensamento está intimamente dependente da proporcional intensidade das ideias que sobre ele actuam. Agitem um pensamento e deixem-no depois entregue a si, sem novas causas a solicitá-lo; a ideia mais grave lhe determinará a posição de equilíbrio; para que esta se possa indiferentemente verificar em qualquer sentido, é necessário que todas as ideias o solicitem com força igual – fenómeno só próprio dos espíritos fátuos.

Como vimos, Manuel Quintino não pensava por aquele tempo senão na tristeza da filha, tristeza por ele suposta prelúdio de doença, que cedo a viria disputar ao seu amor. Durante toda a tarde não houve corrente de pensamentos, suscitados pelos objectos que via, que afinal de contas não terminasse naquele.

Sempre que Manuel Quintino empreendia um passeio, com o fim de se distrair, não hesitava na escolha do itinerário. Desde tempos imemoriais adoptara um e nem lhe passava por o sentido modificá-lo. Deixava-se conduzir por o hábito nisto, como em tudo mais. Atravessava a cidade até à Ribeira; seguia depois, pela margem direita do rio, até Campanhã; chegando ao Esteiro, tomava pela estrada acima, que o levava ao Jardim de S. Lázaro e, enfim, recolhia a casa.

Foi o que fez naquela tarde.

<< Página Anterior

pág. 238 (Capítulo 20)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 238

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432