Os tristes vestígios das guerras civis estão ainda naquele lugar muito evidentes, para que a lembrança delas não acuda súbita ao espírito de quem quer que o contemple por momentos.
Manuel Quintino, como quase todos os portuenses da sua idade, havia sido mais do que simples espectador das cenas trágicas dessas memoráveis épocas.
– Há vinte e tantos anos – pensava ele – não havia, a estas horas, tanto sossego, por aqueles sítios, não. Nem também estes passeios por a beira do rio eram tanto de apetecer como agora. Havia mais perigos do que o dos nevoeiros do Douro. A falar a verdade, sempre era um tempo aquele!... O que eu passei!… Parece-me que ainda foi o outro dia, e já lá vão vinte e tantos anos!... Oh! Mas que alegria também, quando se abriram as linhas!… nesse tempo era ainda a mãe de Cecília uma criança. Só quatro anos depois é que eu principiei a pensar nela... Pobre rapariga!… Parece-me que ainda a estou a ver!… Delgadinha, desmaiada, boa para todos, mas trabalhadeira ao mesmo tempo… É por isso que receio… Valha-me Deus! Assim que me lembro da tristeza da pequena!…
E da Serra do Pilar e do tempo do cerco conseguira aquela ideia dominante achar caminho para se lhe insinuar de novo no pensamento. E, o que mais é, parece que desta vez trazia consigo maior cortejo de sinistros presságios.
Ao chegar à fonte do Carvalhinho, subiu uns degraus de pedra que ali há, e bebeu, mesmo do caneiro, alguns goles de água; coisa que nunca se esquecia de fazer, porque tinha fé particular nas virtudes medicinais daquela excelente água.
– Ah! – dizia ele outra vez distraído. – Consola beber uma água assim! Para águas o Porto! Dizem que em Lisboa são más as águas! Pois é das coisas mais precisas para a saúde. É verdade que eu vejo por aqui também muitas doenças, apesar das águas boas.