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Capítulo 20: XX - Manuel Quintino procura distracções

Página 240
Os tristes vestígios das guerras civis estão ainda naquele lugar muito evidentes, para que a lembrança delas não acuda súbita ao espírito de quem quer que o contemple por momentos.

Manuel Quintino, como quase todos os portuenses da sua idade, havia sido mais do que simples espectador das cenas trágicas dessas memoráveis épocas.

– Há vinte e tantos anos – pensava ele – não havia, a estas horas, tanto sossego, por aqueles sítios, não. Nem também estes passeios por a beira do rio eram tanto de apetecer como agora. Havia mais perigos do que o dos nevoeiros do Douro. A falar a verdade, sempre era um tempo aquele!... O que eu passei!… Parece-me que ainda foi o outro dia, e já lá vão vinte e tantos anos!... Oh! Mas que alegria também, quando se abriram as linhas!… nesse tempo era ainda a mãe de Cecília uma criança. Só quatro anos depois é que eu principiei a pensar nela... Pobre rapariga!… Parece-me que ainda a estou a ver!… Delgadinha, desmaiada, boa para todos, mas trabalhadeira ao mesmo tempo… É por isso que receio… Valha-me Deus! Assim que me lembro da tristeza da pequena!…

E da Serra do Pilar e do tempo do cerco conseguira aquela ideia dominante achar caminho para se lhe insinuar de novo no pensamento. E, o que mais é, parece que desta vez trazia consigo maior cortejo de sinistros presságios.

Ao chegar à fonte do Carvalhinho, subiu uns degraus de pedra que ali há, e bebeu, mesmo do caneiro, alguns goles de água; coisa que nunca se esquecia de fazer, porque tinha fé particular nas virtudes medicinais daquela excelente água.

– Ah! – dizia ele outra vez distraído. – Consola beber uma água assim! Para águas o Porto! Dizem que em Lisboa são más as águas! Pois é das coisas mais precisas para a saúde. É verdade que eu vejo por aqui também muitas doenças, apesar das águas boas.

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pág. 240 (Capítulo 20)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 240

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432