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Capítulo 20: XX - Manuel Quintino procura distracções

Página 241
E sobretudo a gente nova está saindo tão franzina e tão fraca, que é uma coisa por maior! É o medo que eu tenho, quando reparo em Cecília! É tão delicada, tão…

E aí estava outra vez assombrado para grande espaço de tempo.

Chegou à quinta chamada da China – um dos passeios favoritos das classes populares portuenses.

Desciam a rampa, que antecede o portão, alguns bandos de gente do povo, rindo, cantando, em plena festa; iam em direcção ao rio. As barqueiras de Avintes aproximavam os barcos da margem para os receber; outras, ainda a grande distância, chamavam, com toda a força daqueles pulmões robustos, as pessoas que vinham por terra. Cruzavam-se os barcos, movidos pelos vigorosos braços destas engraçadas e joviais remeiras, e carregados com os frequentadores das diversões campestres do Areinho e da pesca do sável. Tudo era riso e cantigas no rio.

Manuel Quintino via tudo isto, e escutava entretido o canto de uma barqueira, que dizia:

As riquezas deste mundo

Para mim não têm valor;

Eu sou rica nos teus braços,

Sou rica do teu amor.

E ele pôs-se a pensar:

– Como esta pobre gente vive satisfeita nesta vida trabalhosa do rio!… Ao vento, à chuva e sabe Deus o que têm em casa para comer! E é um gosto como elas cantam e riem!… Raparigas de quinze e dezasseis anos consola vê-las já mover aqueles remos, que esfalfariam um homem como eu. Não há como estes ares e esta vida do campo, para fazer as pessoas robustas. Se eu adivinhasse que Cecília aproveitaria com eles!…

E retomava o pensamento a posição de equilíbrio estável, de que por instantes se desviara.

Chegou ao ponto da margem, chamado Rego Lameiro. Aí opera o Douro uma das suas súbitas e surpreendentes transformações. Expiram as colinas fronteiras de uma e de outra margem, interrompidas por um vale deliciosíssimo, onde a vegetação é mais abundante, mais povoadas as verduras, e onde se encorporam em riachos as águas escoadas dos próximos declives.

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pág. 241 (Capítulo 20)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 241

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432