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Capítulo 20: XX - Manuel Quintino procura distracções

Página 239
A cidade atravessou-a lidando ainda com o pensamento de tristeza com que saíra de casa.

A primeira diversão operou-a só à vista do mercado de peixe, na Ribeira.

As lanchas valboeiras tinham, naquele instante, chegado ao cais. As regateiras, os compradores particulares e os pescadores que vendiam animavam o mercado com movimento e vozearia.

Este espectáculo, cheio de vida comercial, não achou indiferente Manuel Quintino. Agradava-lhe aquele tráfego; examinava com os olhos conhecedores a excelência do peixe, e informava-se curioso dos preços que regulavam o mercado. Ao sair dali, ia pensando:

– Não há nada para o arranjo doméstico como a pescada. É o peixe mais inocente que há. Com razão lhe chamam a galinha do mar. Aí está a sardinha, que é gostosa; mas é mais doentia também. Que a sardinha de Espinho ainda não tanto, mas esta da barra!… De onde virá a diferença?… Pois não será toda ela o mesmo peixe?… Só se é da praia aqui ser mais pedregosa e o peixe sair mais batido. Que esta costa da Foz sempre é muito cheia de pedras!… Só o perigo que correm as embarcações aqui!… Ainda no outro dia, aquela grande desgraça dos oito pescadores que naufragaram!… Muita pena teve Cecília, quando as folhas contaram de um que deixou uma criancinha órfã! Pobre Cecília!… Tem um coração!… Coitada!… É um anjo… Assim que me lembro daquela tristeza em que anda…

E aí estava a ideia fixa com ele! Parece que ela própria fora a que dispusera esta fileira de ideias associadas, para conduzir a si o pensamento.

A impressão produzida pelo mercado desvanecera-se de todo; Manuel Quintino prosseguiu no passeio, já outra vez melancólico.

Mais adiante, tendo passado a última casa que lhe tolhia a vista do rio e a margem oposta, volveu naturalmente os olhos para o vulto escalvado e sombrio da Serra do Pilar, coroada pelo seu convento em ruínas e a sua igreja circular.

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pág. 239 (Capítulo 20)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 239

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432