– Ó Menina! mas não vê que é noite fechada? – disse Antónia, como, havia pouco tempo, dissera já.
O Sr. Fortunato estava ainda elaborando mentalmente a descoberta que fizera. Cecília não esperou pelo resultado de tal elaboração.
Carlos Whitestone estava por debaixo das janelas dela, e cortejava-a.
Cecília não hesitou.
– Sr. Carlos – disse com voz trémula de sobressalto.
Carlos, surpreendido por se ouvir chamar assim, aproximou logo o cavalo da janela.
– Minha senhora?
– Perdoe-me, por quem é, isto que faço – continuou Cecília –; mas desde o princípio da tarde que meu pai saiu e ainda não voltou a casa, nem dele tenho notícias! Imagine o meu susto! Sabe por acaso, se…
– E para onde foi ele, quando saiu?
– Disse-me que ia passear… mas…
– E não voltou! – atalhou Carlos, estranhando também aquela excepcional demora.
– Que lhe terá sucedido, meu Deus?! – exclamou Cecília, recebendo a comunicação da surpresa de Carlos e transformando-a logo no mais apreensivo terror.
As resoluções em Carlos eram tão prontas, como morosas em José Fortunato.
– Sossegue, minha senhora. Eu vou já saber disso e conte que, dentro em pouco, lhe trarei aqui seu pai.
– Oh! Muito agradecida, Sr. Carlos, muito agradecida! – disse Cecília, com a voz repassada de gratidão.
Carlos cortejou-a de novo e partiu a galope.
Ao vê-lo partir, a consolação de uma esperança entrou pela primeira vez no coração de Cecília.
Carlos era para ela um destes homens que, se um dia tentam o impossível, conseguem-no.
Ao voltar-se, achou Cecília, a dois passos de si, Antónia e o Sr. José Fortunato, que olhavam com fisionomias estupidamente pasmadas.