A rua estava deserta.
– Olhe se lhe faz mal esse ar – dizia José Fortunato. – A menina parece que está já um pouco tomada da garganta. É preciso cautela; estas constipações desprezadas… Seria bom beber alguma bebida quente.
– Ah! Sr. José Fortunato, Sr. José Fortunato! Aí anda já um pouco de egoísmo; a hora do chá vai passando. Ó barro humano!
– Não sei bem o que tem mão em mim, que não vou eu mesma! – exclamou Cecília ao voltar da janela. – E se isto continua assim, não respondo por o que farei. Oh! Não ser eu rapaz!
José Fortunato não compreendeu qual era o seu dever nesta ocasião. Foi defeito de percepção e não de vontade.
A inteligência era-lhe ronceira e as boas lembranças acudiam-lhe, mas tarde; quando já não era tempo de realizá-las. Foi por isso que só teve a dizer:
– Pois olhem o milagre! Se a menina fosse rapaz!… Mas desengane-se, Sr.a D. Cecília, se tiver sucedido alguma desgraça ao pai, mais minuto, menos minuto, ela há-de saber-se.
– Agradecida, pela consolação! – não pôde deixar de dizer Cecília, com manifesto mau humor.
– De uma vez tinha eu ido a um magusto, aí para os lados da Cruz da Regateira, e ao voltar…
Lá parecia ao Sr. José Fortunato aquela ocasião apropriadíssima para contar um caso.
Antónia dispunha-se para ouvi-lo.
Cecília fez um movimento de impaciência e voltou para a janela.
No momento em que chegou ali, avizinhava-se, vindo da extremidade da rua oposta àquela donde ela esperava o pai, um homem a cavalo.
Era Carlos; voltava do costumado passeio extra-urbano.
Cecília reconheceu-o, e acudiu-lhe uma lembrança.
Enquanto o cavaleiro vencia a distância que o separava ainda de casa, Cecília voltou-se para dentro, dizendo:
– Então não querem ir saber de meu pai, não?
O emprego do verbo no plural foi um empuxão dado à perra inteligência do Sr.