Uma Família Inglesa - Cap. 3: III - Na Águia de Ouro Pág. 27 / 432

– E tingiu-se; sim – disse Carlos –, e feitos todos estes aprestos, caminhou para a entrevista.

– E como se realizava essa entrevista? – perguntou um militar.

– De uma maneira muito singular – prosseguiu Carlos – o conselheiro, todas as noites, depois de pousar na relva o chapéu, a bengala e as luvas, trepava, como um esquilo, pela faia que fica junto da varanda e…

– Ora! Impossível! – exclamaram alguns, rindo.

– Palavra!

– Isso é contra todas as leis da mecânica, aquele bojo… – principiou a dizer um estudante da Universidade.

– Pelo contrário – atalhou outro – é exactamente o bojo que o faz subir. Lembra-te do princípio de Arquimedes. Os aeróstatos…

– A queda do conselheiro seria uma bela experiência para um curso de física…

– Divertida… – anotou uma voz.

– Como exemplificando as leis da queda dos graves… um tão grave personagem – concluiu o primeiro.

Estes sujeitos guindavam o calembour ao supremo grau da escala do espírito.

– Então? deixem falar Carlos; e depois? – disseram alguns curiosos.

Carlos continuou:

– Naquela noite, porém, estava reservada ao conselheiro a mais triste surpresa; ao entrar na espessura da folhagem, deu de cara com o outro.

– Com o Vítor?

– Exactamente, com o Vítor. Imaginem agora vocês o soberbo diálogo que se seguiu ao encontro.

– Devia ser preciosíssimo! Que harmonioso certame de rouxinóis!

– O conselheiro principiou talvez por dizer-lhe:

Tytire, tu patulæ recubans sub tegmine fagi

Formosam resonare doces Amaryllida silvas

– Protesto contra o recubans. A posição de Vítor era menos cómoda.

– Mutatis mutandis, já se sabe.

– Ó padre Manuel, diz-nos como a tua latinidade exprimiria a posição em que estava o Vítor.

– Não interrogues o padre. Não vês que ele está, como os antigos agoureiros, consultando as entranhas das aves? Respeitemos a solenidade do acto.





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