Uma Família Inglesa - Cap. 3: III - Na Águia de Ouro Pág. 28 / 432

– Mas as consequências, Carlos, quais foram as consequências?

– As consequências foram as que vocês já sabem, o conselheiro…

Neste ponto, a narração de Carlos foi interrompida por o criado da hospedaria, que se aproximou dele para lhe entregar uma carta.

– Com a sua permissão, meus senhores – disse Carlos preparando-se para abri-la.

– Bravo! – exclamou o jornalista. – Temos carta de alguma Eco impaciente.

– E un foglio a me lasció – cantarolou um dilettante, voltando as costas da cadeira para a mesa.

– É a proposta de capitulação de alguma Tróia sitiada – disse o militar.

– Cheira-me a fumo de gambiarra e ribalta; temos intriga de camarim.

– Antevejo então uma descarga de bilhetes de benefício, a que poucos escaparemos.

Carlos sorria, ao abrir a carta.

– Ó Carlos, olha que são perigosos para as digestões os sobressaltos de coração – notou o estudante de medicina.

– Sossega; é um excitante a que já estou habituado – respondeu Carlos.

De repente tornou-se sério.

– Má nova! – disseram alguns.

– O caso complica-se.

– As exigências da beneficiada sobem até o acróstico, querem ver?

– Não é isso; aposto que mais outro conselheiro trepa uma segunda faia, e desta vez vinga o colega, na pessoa de Carlos.

Carlos não os escutava já. Ergueu-se, aproximou-se do aparador, e escreveu, no verso do bilhete que recebeu, algumas palavras à pressa.

Enquanto fazia isto, os companheiros do festim, fingindo ditar-lhe a resposta, diziam:

– Meu anjo, se no céu…

– Voo nas asas do amor…

– Qual outro Leandro, eu, náufrago…

– Minha Heloísa; se o infortúnio de Abeillard…

– Julieta, quando o rouxinol…

Carlos voltou para a mesa, depois de fechar a carta e de entregá-la ao criado.

Esforçava-se por manter nos lábios o sorriso; mas o esforço era visível, circunstância que, como sempre, lhe anulava o efeito.





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