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Capítulo 3: III - Na Águia de Ouro

Página 28

– Mas as consequências, Carlos, quais foram as consequências?

– As consequências foram as que vocês já sabem, o conselheiro…

Neste ponto, a narração de Carlos foi interrompida por o criado da hospedaria, que se aproximou dele para lhe entregar uma carta.

– Com a sua permissão, meus senhores – disse Carlos preparando-se para abri-la.

– Bravo! – exclamou o jornalista. – Temos carta de alguma Eco impaciente.

– E un foglio a me lasció – cantarolou um dilettante, voltando as costas da cadeira para a mesa.

– É a proposta de capitulação de alguma Tróia sitiada – disse o militar.

– Cheira-me a fumo de gambiarra e ribalta; temos intriga de camarim.

– Antevejo então uma descarga de bilhetes de benefício, a que poucos escaparemos.

Carlos sorria, ao abrir a carta.

– Ó Carlos, olha que são perigosos para as digestões os sobressaltos de coração – notou o estudante de medicina.

– Sossega; é um excitante a que já estou habituado – respondeu Carlos.

De repente tornou-se sério.

– Má nova! – disseram alguns.

– O caso complica-se.

– As exigências da beneficiada sobem até o acróstico, querem ver?

– Não é isso; aposto que mais outro conselheiro trepa uma segunda faia, e desta vez vinga o colega, na pessoa de Carlos.

Carlos não os escutava já. Ergueu-se, aproximou-se do aparador, e escreveu, no verso do bilhete que recebeu, algumas palavras à pressa.

Enquanto fazia isto, os companheiros do festim, fingindo ditar-lhe a resposta, diziam:

– Meu anjo, se no céu…

– Voo nas asas do amor…

– Qual outro Leandro, eu, náufrago…

– Minha Heloísa; se o infortúnio de Abeillard…

– Julieta, quando o rouxinol…

Carlos voltou para a mesa, depois de fechar a carta e de entregá-la ao criado.

Esforçava-se por manter nos lábios o sorriso; mas o esforço era visível, circunstância que, como sempre, lhe anulava o efeito.

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pág. 28 (Capítulo 3)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 28

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432