– Mas as consequências, Carlos, quais foram as consequências?
– As consequências foram as que vocês já sabem, o conselheiro…
Neste ponto, a narração de Carlos foi interrompida por o criado da hospedaria, que se aproximou dele para lhe entregar uma carta.
– Com a sua permissão, meus senhores – disse Carlos preparando-se para abri-la.
– Bravo! – exclamou o jornalista. – Temos carta de alguma Eco impaciente.
– E un foglio a me lasció – cantarolou um dilettante, voltando as costas da cadeira para a mesa.
– É a proposta de capitulação de alguma Tróia sitiada – disse o militar.
– Cheira-me a fumo de gambiarra e ribalta; temos intriga de camarim.
– Antevejo então uma descarga de bilhetes de benefício, a que poucos escaparemos.
Carlos sorria, ao abrir a carta.
– Ó Carlos, olha que são perigosos para as digestões os sobressaltos de coração – notou o estudante de medicina.
– Sossega; é um excitante a que já estou habituado – respondeu Carlos.
De repente tornou-se sério.
– Má nova! – disseram alguns.
– O caso complica-se.
– As exigências da beneficiada sobem até o acróstico, querem ver?
– Não é isso; aposto que mais outro conselheiro trepa uma segunda faia, e desta vez vinga o colega, na pessoa de Carlos.
Carlos não os escutava já. Ergueu-se, aproximou-se do aparador, e escreveu, no verso do bilhete que recebeu, algumas palavras à pressa.
Enquanto fazia isto, os companheiros do festim, fingindo ditar-lhe a resposta, diziam:
– Meu anjo, se no céu…
– Voo nas asas do amor…
– Qual outro Leandro, eu, náufrago…
– Minha Heloísa; se o infortúnio de Abeillard…
– Julieta, quando o rouxinol…
Carlos voltou para a mesa, depois de fechar a carta e de entregá-la ao criado.
Esforçava-se por manter nos lábios o sorriso; mas o esforço era visível, circunstância que, como sempre, lhe anulava o efeito.