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Capítulo 3: III - Na Águia de Ouro

Página 26
Um jantar pode muito bem ser motivo de si mesmo: sendo possível dele dizer-se de alguma sorte, em linguagem filosófica, que tem em si a «razão suficiente da sua existência».

Na companhia encontraremos alguém já conhecido nosso.

E como, até agora, só tenho apresentado ao leitor três pessoas, não será prova de grande perspicácia, da sua parte, adivinhar qual dessas três será.

Efectivamente é Carlos Whitestone um dos convivas e não dos mais sisudos.

Ficava próximo da cabeceira da mesa. Carlos era quem mais vezes conseguira encaminhar a um fito único todas as atenções e modificar a assembleia a ponto de se lhe poder referir o conticuere omnes da Eneida; – verdade é que não tão completamente o fizera como o herói troiano, pois nem tinha destruição de Ílion a descrever, nem a paciência dos Tírios a escutá-lo.

Carlos Whitestone passava por estar muito em dia com os boatos cómicos e escandalosos, de que sempre e em toda a parte é tão sôfrego o paladar social.

Por isso o escutavam todos com prazer.

Sinto que não chegássemos a tempo de ouvir o princípio da narração, que ele levava em meio.

– O nosso homem – dizia Carlos, acendendo um charuto no de um jornalista, seu vizinho –, apesar do aviso que recebera, resolveu na melhor das boas-fés…

– Então é a boa-fé dos maridos – comentou a meia voz um padre que, atrasado nas operações gastronómicas, investia com denodo contra um timbale de pombos, ainda miraculosamente intacto, e acrescentou: – Não sei de outra que a exceda.

– Regula por essa a dos amantes ingénuos – acudiu Carlos ao comentário.

– Mas é de menos consequências – respondeu o outro.

– Silêncio, padre Manuel! – bradaram algumas vozes. – Vamos lá, Carlos; e depois?

– Depois – prosseguiu Carlos – enfeitou-se, perfumou-se, aparamentou-se, frisou-se…

– E tingiu-se; que não esqueça – acrescentou do fim da mesa uma voz.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 26

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432