Uma Família Inglesa - Cap. 23: XXIII - Diplomacia do coração Pág. 281 / 432

Digam-no os numerosos pares, para quem voam as horas e desaparece o mundo, de enlevados que se entregam a esses intermináveis diálogos, motivo de zombarias aparentes e de ocultas invejas dos que os não podem gozar; digam se, quando mais sinceros sentiam em si os afectos, eram metafísicas e transcendentes especulações sobre o amor o que assim lhes absorvia as atenções e os cuidados; digam se, quando, ao terminar um desses felizes dias, tentavam reproduzir as impressões recebidas no decurso dele, recordando as palavras ditas e escutadas naquelas longas entrevistas, outra coisa lhes conseguia avivar a memória que não fossem diálogos pouco dramáticos, banalidades sobre assuntos indiferentes, mas sob cujo disfarce o coração achara meio de dizer muito e até mais eloquentemente do que ainda poeta algum o pôde exprimir – nem o próprio Petrarca nos seus trezentos e dezoito sonetos.

Isto aconteceu a Carlos Whitestone. Poucas vezes voltara a casa mais possuído desta íntima e indefinida alegria de quem assiste em si ao atear de uma paixão do que na noite em que se verificou o diálogo, que o leitor provavelmente julgou prolongar-se sem consequências.

Prolongou-se este estado de coisas. O médico, a quem fora confiado o tratamento de Manuel Quintino, prudente em demasia, apenas lhe prometia esperanças de o deixar sair passada uma semana mais.

Carlos não pensava com frieza de ânimo no termo daquele prazo. Poderia, sem causar estranheza, continuar, ainda depois dele, as visitas que lhe eram já tão necessárias? Até ali servia-lhe o pretexto de vir dar contas a Manuel Quintino do serviço da manhã; mas depois?

Carlos continuou a ser diligente nos negócios do escritório. Mr. Richard ainda não acabara de conformar o espírito àquela mudança do filho.





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