– Arrenego eu o Judas Iscariotes!
– E então, Sr.a Antoninha, é um menino a quem tudo faz conta. Não sei se me entende? Seda e chita é tudo pano para ele fazer obra. Dizia o Luís, que foi muito tempo criado dele, que eram tantas as cartas que recebia de diferentes, que era uma coisa por maior!
– Tratante! O que ele precisava…
– Diz que aí com uma comediante do teatro gastou ele contos de réis ao pai. Até o velho quis mandá-lo para Inglaterra.
– Fosse e nunca voltasse! Arrenego-o eu!
– É da pele do mafarrico. Depois então diz que bebe!
– Faltava mais essa!
– Pois se ele é inglês! Às vezes, quando vem para casa, já de dia claro, chega a ser preciso deitá-lo na cama, porque não dá acordo de si.
– Olhem que vergonha! Uma pessoa fina, e…
A gente sempre vê coisas!…
– Aqui há tempos… Vá vendo a Sr.a Antoninha; ia eu já a abrir a porta da rua, pela madrugada, e entrava aquela criaturinha para casa. Vinha amarelo, esgadelhado; bem se conhecia o estado daquela cabeça.
– Não, também com uma vida assim não pode ir muito longe.
– Pois não, não… E é até uma felicidade para ele, se morrer.
– Aposto que a estas horas ainda dorme?
– Abriu agora mesmo as janelas. Hoje madrugou.
– Então é ali o quarto dele?
– É, é ali mesmo à entrada. O pai e a irmã saíram logo pela manhã cedo. Pelos modos diz que chegou da Inglaterra um inglês muito rico com uma filha, a quem eles foram visitar. Disse-me a Doroteia, que é a despenseira, que o velho quer ver se casa o filho com a tal inglesa.
– E o rapaz?
– O rapaz?… Bem pensa ele nisso!… Olhe lá se ele os foi visitar.
Haviam chegado as duas mulheres a este ponto do diálogo, quando entrou na rua uma sege da praça, puxada com toda a força por dois vigorosos cavalos, e veio parar à porta da casa de Mr.