Richard Whitestone.
O boleeiro saltou imediatamente da tábua para receber as ordens da pessoa que vinha dentro e que as gelosias corridas das portinholas furtavam à curiosidade das duas mulheres.
Em seguida tocou à campainha; apareceu-lhe, passado algum tempo, o criado particular de Carlos; trocadas poucas palavras entre ambos, este retirou-se, voltando cedo depois com a resposta.
Tendo-a ouvido, o boleeiro veio abrir a porta da carruagem, da qual saiu então uma senhora de elegante aparência, toda vestida de preto e cujas feições se ocultavam em um longo véu, impenetrável aos olhos ávidos de Antónia e da sua amiga.
Esta senhora desapareceu pelo portão do jardim em companhia do criado de Carlos.
A Sr.a Antónia e a Sr.a Josefinha trocavam entre si olhares eloquentes.
– Mas… – murmurou Antónia.
– Que é?… Diga.
– Não me tinha dito que o pai e a filha haviam saído?
– Há mais de uma hora.
– Então…
– Então o quê?
Os olhos prosseguiram algum tempo o diálogo.
– Ora sempre é desaforo! – disse a Sr.a Antónia, após o diálogo dos olhos.
– É isto que vê.
– Conheceu-a?
– Eu não.
– Mas com este descaro?!
– É para que veja.
– Não, pois eu não saio daqui, sem descobrir quem ela é ou pelo menos…
– Ora diga a Sr.a Antoninha se isto não é fazer pouco caso da vizinhança.
E as duas continuaram nestes santos comentários. A Sr.a Josefinha chegou a adiantar algumas perguntas ao boleeiro, que lhe viera pedir lume para acender o cigarro. Este, porém, só lhe pôde dizer que era uma senhora ainda nova e bonita, que morava em Santa Catarina.
Antónia tomou conta na rua.
As conjecturas continuaram até que de novo apareceu no portal a pessoa que era objecto delas. Agora acompanhava-a Carlos que, com toda a galanteria, a ajudou a entrar no carro, entrando também atrás dela, depois de haver dado algumas ordens ao boleeiro.