Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 24: XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão

Página 286

– É mesmo cinco réis de gente. Um desconjuntado, um lorpinha.

– São gostos.

– É assim; diz bem. Mas então a sua ama…

– Essa… por enquanto… É aqui como a sua vizinha.

– Qual?

– A do inglês, a filha do patrão do meu amo.

– Ah! Essa então! É aquilo que ali está. É uma boa menina, isso é; muito amiga da pobreza… Esquisita como todas as inglesas, mas no mais… Olhe que, desde que somos vizinhas, ainda não teve uma palavra que me dissesse! À janela ninguém a vê, e, quando passa por aqui, faz-me uma cortesia muito séria e nada mais.

– Ela é muito da menina lá de casa.

– É. Eu tenho visto a sua ama vir aí muitas vezes.

– É uma boa família esta.

– É, isso é. Não há que se lhe diga.

– O velho julgo que é pessoa capaz.

– É, é assim meio maníaco, mas afinal não é mau sujeito, não. Tem as suas venetas, como quase todos os ingleses… mas…

– E o rapaz mesmo…

– O Sr. Carlos? Ai, por amor de Deus, não me fale nisso.

A Sr.a Antónia chegara enfim ao tópico desejado.

– Então?

– Isso é uma peça de fazenda!

– Que me diz!

– Faz lá ideia do que ali está! Um estroina assim não há! Recolhe-se a casa lá por que altas horas da noite. Dorme até ao meio-dia. Ora veja a Sr.a Antoninha que vida pode ser a dele.

– Então joga?

– Ele joga, ele fuma, ele passa a vida nos botequins e nos teatros, ele bebe, ele anda sempre com más companhias.

– Que tal! Hem!

– Isso não faz ideia! Em casa anda tudo a ferver por causa daquele menino. Não fala com o pai, a irmã passa um martírio com ele. Disse-me a Susana, que é ainda minha prima, e que esteve lá a servir oito dias, que aquilo é uma pouca vergonha. Às vezes está a mortificar aquela pobre irmã, e ralha, e ralha, e torna a ralhar, e ela então, coitadinha, chora que é uma dor do coração.

<< Página Anterior

pág. 286 (Capítulo 24)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 286

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432