– É mesmo cinco réis de gente. Um desconjuntado, um lorpinha.
– São gostos.
– É assim; diz bem. Mas então a sua ama…
– Essa… por enquanto… É aqui como a sua vizinha.
– Qual?
– A do inglês, a filha do patrão do meu amo.
– Ah! Essa então! É aquilo que ali está. É uma boa menina, isso é; muito amiga da pobreza… Esquisita como todas as inglesas, mas no mais… Olhe que, desde que somos vizinhas, ainda não teve uma palavra que me dissesse! À janela ninguém a vê, e, quando passa por aqui, faz-me uma cortesia muito séria e nada mais.
– Ela é muito da menina lá de casa.
– É. Eu tenho visto a sua ama vir aí muitas vezes.
– É uma boa família esta.
– É, isso é. Não há que se lhe diga.
– O velho julgo que é pessoa capaz.
– É, é assim meio maníaco, mas afinal não é mau sujeito, não. Tem as suas venetas, como quase todos os ingleses… mas…
– E o rapaz mesmo…
– O Sr. Carlos? Ai, por amor de Deus, não me fale nisso.
A Sr.a Antónia chegara enfim ao tópico desejado.
– Então?
– Isso é uma peça de fazenda!
– Que me diz!
– Faz lá ideia do que ali está! Um estroina assim não há! Recolhe-se a casa lá por que altas horas da noite. Dorme até ao meio-dia. Ora veja a Sr.a Antoninha que vida pode ser a dele.
– Então joga?
– Ele joga, ele fuma, ele passa a vida nos botequins e nos teatros, ele bebe, ele anda sempre com más companhias.
– Que tal! Hem!
– Isso não faz ideia! Em casa anda tudo a ferver por causa daquele menino. Não fala com o pai, a irmã passa um martírio com ele. Disse-me a Susana, que é ainda minha prima, e que esteve lá a servir oito dias, que aquilo é uma pouca vergonha. Às vezes está a mortificar aquela pobre irmã, e ralha, e ralha, e torna a ralhar, e ela então, coitadinha, chora que é uma dor do coração.