O seu orgulho revoltou-se.
– Não posso explicar nada disso, mas dou-lhe a minha palavra que…
Mr. Richard atalhou-o:
– Nem eu quero também averiguar dos actos da sua vida. Têm-me chegado aos ouvidos rumores de muita extravagância sua, de que não tenho feito caso. Mas quero, mas exijo… E ainda tenho força bastante para o conseguir, pode crê-lo… Quero e exijo que se respeite o meu nome e… e a minha casa. Fique entendendo…
– Mas eu já lhe dei a minha palavra de honra de que todos os meus actos desta manhã não podiam desonrar nem o seu nome, que é o meu também, nem esta casa, que eu respeito como…
– A sua palavra de honra! Não basta. Bem vê que tenho motivos para duvidar dela… e por isso…
– Nesse caso, como não tenho outra garantia a oferecer, calo-me. Depois de uma resposta como essa, quando é de um pai que a recebemos, não nos resta outro partido, além do silêncio – disse Carlos, com decidida resolução de não continuar este diálogo, receando com razão que a impetuosidade do génio o levasse a esquecer a qualidade da pessoa que altercava com ele.
Mr. Richard calou-se também e deu em passear no quarto. Depois disse, ainda com severidade, mas em tom menos elevado:
– Parece-me que concordará comigo em que me assiste o direito de pugnar pelo decoro da minha casa?
Carlos não respondeu.
– É um dever imperioso de todo o chefe de família. A excessiva benevolência é também imoralidade – disse ainda o pai.
O mesmo silêncio da parte de Carlos.
– Espero que não tenha deixado adormecer em si tão profundamente os sentimentos de homem, que não compreenda já este dever da minha parte.