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Capítulo 25: XXV - Tempestade doméstica

Página 293

Jenny viu-o partir sobressaltada e procurando em vão adivinhar a razão daquela entrevista.

Mr. Richard neste tempo apareceu no quarto do filho.

Muito longe de esperar aquela visita, Carlos, recostado no canapé, pensava… em Cecília provavelmente.

Ao ver o pai, que tão raro o procurava no quarto, levantou-se com alvoroço e mal oculto espanto.

Mr. Richard caminhou para ele, e tirando do bolso o relógio e a corrente disse, quase gaguejando, como sempre lhe acontecia quando sob o domínio de violenta comoção:

– Aí tem. Quando vender as… as dádivas das… das… pessoas que… que o estimam… seja para… fins que… que o não envergonhem, nem… deponham tristemente contra… o seu carácter…

À vista do relógio foi tal a comoção que se apoderou de Carlos que nada pôde responder; baixou os olhos, confuso, corou intensamente, como se a consciência lhe estivesse dizendo que a severidade das arguições do pai era merecida.

Esses sinais foram por Mr. Richard interpretados como tácita confirmação das suas suspeitas.

Cresceu nele com isto a irritação.

– Seja extravagante muito embora… mas… mas… nunca seja… nunca seja vil…

Carlos estremeceu ao ouvir aquela palavra, e levantou com vivacidade a cabeça.

– Senhor! – exclamou, mal conseguindo o respeito filial sufocar-lhe a indignação que sentira.

– Vil, sim – repetiu Mr. Richard com mais força, como se excitado por aquela aparência de reacção. – Quero que não faça desta casa teatro das suas… aventuras… escandalosas.

– Mas…

– Lembre-se de que é aqui – prosseguiu, sem o atender, o pai – aqui, debaixo destes tectos, que não tem a delicadeza de respeitar, que é aqui que embranqueceram os cabelos de seu pai… que foi aqui que sua mãe morreu… que é aqui que vive sua irmã.

– Creio que ainda não dei motivos para…

– Quem o procurou esta manhã? Com quem saiu de carruagem? Com que fim vendeu esse relógio?

Carlos calou-se.

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pág. 293 (Capítulo 25)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 293

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432