Uma Família Inglesa - Cap. 25: XXV - Tempestade doméstica Pág. 293 / 432

Jenny viu-o partir sobressaltada e procurando em vão adivinhar a razão daquela entrevista.

Mr. Richard neste tempo apareceu no quarto do filho.

Muito longe de esperar aquela visita, Carlos, recostado no canapé, pensava… em Cecília provavelmente.

Ao ver o pai, que tão raro o procurava no quarto, levantou-se com alvoroço e mal oculto espanto.

Mr. Richard caminhou para ele, e tirando do bolso o relógio e a corrente disse, quase gaguejando, como sempre lhe acontecia quando sob o domínio de violenta comoção:

– Aí tem. Quando vender as… as dádivas das… das… pessoas que… que o estimam… seja para… fins que… que o não envergonhem, nem… deponham tristemente contra… o seu carácter…

À vista do relógio foi tal a comoção que se apoderou de Carlos que nada pôde responder; baixou os olhos, confuso, corou intensamente, como se a consciência lhe estivesse dizendo que a severidade das arguições do pai era merecida.

Esses sinais foram por Mr. Richard interpretados como tácita confirmação das suas suspeitas.

Cresceu nele com isto a irritação.

– Seja extravagante muito embora… mas… mas… nunca seja… nunca seja vil…

Carlos estremeceu ao ouvir aquela palavra, e levantou com vivacidade a cabeça.

– Senhor! – exclamou, mal conseguindo o respeito filial sufocar-lhe a indignação que sentira.

– Vil, sim – repetiu Mr. Richard com mais força, como se excitado por aquela aparência de reacção. – Quero que não faça desta casa teatro das suas… aventuras… escandalosas.

– Mas…

– Lembre-se de que é aqui – prosseguiu, sem o atender, o pai – aqui, debaixo destes tectos, que não tem a delicadeza de respeitar, que é aqui que embranqueceram os cabelos de seu pai… que foi aqui que sua mãe morreu… que é aqui que vive sua irmã.

– Creio que ainda não dei motivos para…

– Quem o procurou esta manhã? Com quem saiu de carruagem? Com que fim vendeu esse relógio?

Carlos calou-se.





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