– E foste?… Ó Charles! – disse Jenny, olhando com desaprovação para o irmão.
– Tirei da corrente este pequeno sinete de ágata, a parte menos valiosa do presente, para conservar uma memória dele. Sabes que não é pelo preço dos objectos, que me oferecem, que eu os aprecio. Vendi o mais; confesso que vendi. Passadas horas o acaso fez-me o favor de conduzir meu pai pela mão justamente até à loja do ourives onde relógio e corrente estavam já expostos à venda. Reconheceu-os, comprou-os de novo, e trouxe-mos, dizendo-me por essa ocasião algumas palavras que… que só a ele poderia, e deveria, ter a paciência de ouvir.
– Mas… que má cabeça a tua! Para que foste vender aquele relógio, que ele, coitado, com tanto gosto mandara vir para ti?
– Porque se tratava de alguma coisa mais importante e mais grave do que os arrufos de um pai, por mais respeitáveis que eles possam ser.
Jenny fez involuntariamente um gesto de dúvida.
– Acredita-me, Jenny. Não duvides tu, como ele duvidou. Afirmo-te, tomando os mais sagrados testemunhos, que, se ainda se desse o motivo que se deu, não hesitaria, apesar do que houve, em vender outra vez este mesmo relógio e esta mesma corrente.
– Então que forte motivo foi esse?
– Não posso dizer-to.
– Já me não contas, como dantes, os teus segredos, Charles?
– Este não é meu.
Jenny calou-se.
Carlos olhou por algum tempo para a irmã; depois veio pegar-lhe nas mãos, dizendo:
– Olha bem para mim, Jenny. Tu estás a duvidar também da minha palavra.
– Não… Charles… não duvido.
– Diz: podes acreditar que teu irmão, com todos os seus estouvamentos, cometa uma vileza?
– Ó Charles! Que pergunta!
– Podes acreditar que ele se esqueça por um momento do muito respeito e amor que te deve, Jenny? E da veneração que sempre teve pela memória da mãe, que mal chegou a conhecer?
– Não, Charles, não.