Que querem? Não está em moda trazer o coração à vista. É costume tratar, como ridículas, todas as manifestações de sentimento; consideram-se como pequenas fraquezas que, com milhares de outras, só se devem confiar à discrição das quatro paredes do nosso quarto.
Carlos porém não sabia dissimular; com verdadeira convicção e franca ingenuidade, dissera aquelas palavras, que lhe valeram alusões epigramáticas ao que eles chamavam «respeitabilíssima tendência para pai de famílias».
O bilhete que motivara esta cena e que parecia haver impressionado deveras Carlos era da irmã e dizia apenas:
«CHARLES
É hoje o dia 19 de Fevereiro. Fazes vinte anos. Julguei que seria desnecessário pedir-te para nos dares o prazer de te vermos connosco. O pai esperava-te. Adeus.
Jenny.»
A este pequeno bilhete, Carlos respondeu apenas:
«JENNY
Confiaste de mais na minha memória; acredita que me esqueci. Não me sucederia o mesmo decerto, se, em vez do meu, fosse o dia do aniversário de qualquer de vós. Fazes-me a justiça dessa suposição, não é verdade? Agora não posso valer-lhe. Obriguei-me a seguir até o fim companheiros tão doidos como eu; e, quando os deixasse, não sei se ainda iria em estado de poder, sem profanação, sentar-me ao teu lado, à santa e patriarcal mesa de família. Bem vês que nem vale a pena festejar o dia em que veio ao mundo mais uma cabeça leve. Amanhã te pedirei perdão… Como me lembrei também de fazer anos na segunda-feira de Entrudo?!
Teu mau irmão
Charles.»
Afinal, após algumas explicações mais, um dos convivas levantou-se e, empunhando o cálice:
– Meus senhores, proponho que saudemos o aniversário de Carlos – bradou, em tom de brinde.
– Apoiado – responderam todos, imitando-o.
– Carlos – continuou o primeiro