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Capítulo 3: III - Na Águia de Ouro

Página 29

– Que é isso? – disse o militar, que lhe ficava defronte. – Respiraste a peste nessa carta?

– O nosso Manrique terá de correr a salvar a sua Leonora das garras de um conde de Luna? – disse o dilettante.

– Ulisses voltou aos lares domésticos; o que vale por um mandado de despejo aos…

– Um capelista, menos atencioso, insiste pelo pronto pagamento de uma avultada conta de enfeites.

– Um dominó leva a sua ingratidão até…

– Já vão numerosas as hipóteses – disse Carlos, enchendo um cálice de vinho e procurando conservar às suas palavras o tom jovial do princípio da noite; depois acrescentou: – este bilhete era para me recordar…

– Ai! recordações!…

Te souviens-tu, de même,

De nos transports brulants…

– Para me recordar que era hoje o dia de meus anos – concluiu Carlos.

– Deveras!

– É o que eu te digo.

Quand tu m’as dit: «je t’aime!»

J’avais alors vingt ans.

– E estavas calado com isso.

– Se o ignorava! Quando soubesse a tempo, não me teriam aqui.

– Então? Receber-nos-ias em tua casa?

– Também não. Costumo consagrar estes dias exclusivamente à vida de família.

– Oh! oh! sentimentalismo!

– Britânico! Pés no fender, punch na mesa, Times na mão. E de quando em quando um monossílabo rosnado, ou uma interjeição que produz na garganta o efeito do ácido prússico. Delicioso!

– Deve ser um céu aberto!

– Mas céu inglês, um pouco turvado de nevoeiros.

– E de carvão de pedra.

– Não esquecendo uma paráfrase de algum texto bíblico.

– E umas variações vocais sobre motivos do God save.

Carlos sorriu, respondendo:

– Creiam-me, de vez em quando, tem seus prazeres também um dia passado assim.

Eu quero acreditar que, dos circunstantes, muitos, se não todos, sentiam a verdade do que acabara de dizer Carlos, e também possuíam faculdades para apreciar estes íntimos gozos de família; mas envergonhavam-se de fazer tão claro, e em plena ceia de Carnaval, tal confissão.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 29

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432