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Capítulo 3: III - Na Águia de Ouro

Página 31
–, bebo aos teus vinte anos! Contes pelos trezentos e sessenta e cinco dias que se vão seguir ao de hoje as paixões que fizeres nascer; e possas tu…

– Não se admitem longos speeches; olá! Bebamos! – disse uma voz.

– É sempre mais expressivo o gole que entra, do que a frase que sai – acrescentou outra.

– Até porque, devendo sempre dar-se a primazia ao mais sábio, é o vinho que a merece; pois é ele, neste momento, o que mais sabe.

– Ora faz-nos o favor de nos poupar, ao menos agora, à difícil digestão dos teus calembours.

– Então? Bebamos! – insistiu o coro.

E o brinde foi geral.

Carlos correspondeu constrangido àquela saudação. Parecia-lhe estar vendo Jenny, a olhá-lo com uma expressão de amigável desgosto; Jenny, a única a fazer companhia ao velho negociante, que não pouco devia ter sentido a ausência do filho. Durante toda a noite já não era para o pobre rapaz dissipar completamente aquela impressão penosa.

Apoderara-se de Carlos Whitestone um pensamento fixo, um quase remorso de se ver ali; e este efeito, se não lhe distraía completamente a atenção dos assuntos que na sala se tratavam, enfraquecia-lhe a intensidade dela a ponto de nem já tomar parte nas discussões, nem o ocuparem, por muito tempo, as ideias aventadas por os outros.

À placa da câmara escura, não preparada na oficina fotográfica, é comparável o pensamento, em ocasiões assim. Lá se gravam ainda as imagens das coisas exteriores, mas, não as fixando a atenção, dissipam-se rapidamente, removidos os objectos que as motivaram.

Daí o tom distraído e indiferente das raras observações feitas por Carlos no resto da noite, e a impaciência de algumas respostas que foi forçado a dar.

Entre muita coisa que se disse na sala, eis o que ele ouviu, sem escutar; a qualquer destes assuntos não costumava Carlos, nas ordinárias disposições de espírito, recusar atenções, nem esquivar a concorrência própria.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 31

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432