Uma Família Inglesa - Cap. 26: XXVI - Ineficaz mediação de Jenny Pág. 301 / 432

Amanhã já nada terei na memória talvez de tudo isto; mas hoje, mas agora, agravaria o mal, se me apresentasse tão cedo diante do pai.

Jenny não insistiu, porque reconheceu a verdade desta reflexão do irmão. Daí a pouco, disse-lhe:

– Dou duas horas de vida ao teu ressentimento, e já é supô-lo muito violento. Ao anoitecer, nem sombras haverá dele. Acompanhar-nos-ás então a casa de Mr. Smithfield, o que será o maior prazer que podes causar ao pai; e o dia de amanhã virá sem nuvens.

– Não, Jenny, não vos posso acompanhar esta noite.

– Não digas que não, Charles. Então és assim reservado?

– Não; mas… tenho destino para esta noite já.

– E tanta urgência que não possas…

– Não posso faltar, não.

– Ó Charles, não ouviste o que o pai disse? – «Mr. Smithfield é um homem que tem feito serviços à casa…»

– Hoje não posso; amanhã visitarei esse senhor.

– Amanhã partem eles para o Minho.

– Tanto pior. Vê-los-ei na volta.

– Vais desafiar uma tempestade, recusando-te a tão pequeno sacrifício.

– Que querem? Digam a esse homem que eu tenho mau carácter, que sou desagradecido, intratável, grosseiro, egoísta; e que por isso não deve estranhar a minha pouca pressa em ir dar-lhe os emboras pela sua feliz viagem.

Carlos disse tudo isto com impaciência, que sobressaltou a irmã.

Foi com ligeiro tremor na voz que ela lhe respondeu:

– Tu bem sabes que não é isso que eu posso dizer de ti, Charles, nem deixar que os outros, na minha presença, digam.

Carlos abrandou imediatamente, ao ouvir estas palavras.

– Pobre Jenny! És a única pessoa que me conhece deveras.

– E tu a que te conheces menos – respondeu a irmã, com doçura, e depois acrescentou: – Vens?

– Não posso.

– Charles!

– Mas se eu prometi!… Olha, Jenny, se és minha amiga, não insistas mais a este respeito; que não seja o dia de hoje tão aziago para mim que esteja destinado a receber durante ele desgostos das pessoas a quem mais estimo.





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