As lágrimas assomaram desta vez aos olhos de Jenny.
– Era para tos evitar que eu insistia, Charles… Perdoa-me se…
E a comoção não a deixou continuar.
Carlos apoderou-se-lhe das mãos, que cobriu de beijos.
– Minha boa Jenny! Minha generosa irmã! Perdoa-me tu, perdoa a este estouvado que nem sabe o que diz. De joelhos te devia implorar, filha, eu, que te pago em lágrimas os sorrisos que me dás. Tu a pedir-me perdão! Eu a perdoar-te, Jenny! O quê?… O conforto que me tens dado sempre?… Esta serenidade que me fazes durar na vida, anjo? As carícias e cuidados de mãe que me ensinaste a conhecer? Pobre mãe, só dois anos mais velha do que este mau filho, que não sabe senão afligi-la! É isto que tenho a perdoar-te? Diz. Não repares para as loucuras desta minha cabeça. E agora escuta-me. Eu desejava fazer-te a vontade mas… ontem… o… Manuel Quintino mostrou-me desejos de celebrar na minha companhia o último dia de reclusão a que a doença o tem obrigado. Amanhã já ele sai. É uma pequena e suave festa de família, e na qual somente servem de galas os afectos e as flores. Esta manhã não pude ir visitá-lo, como ele me pediu… Era agora, à noite, que eu tencionava ir… Queres que eu deixe de satisfazer o desejo do pobre homem?
Jenny, depois de fitar por algum tempo o irmão, suspirou, baixando os olhos.
– Responde, Jenny – repetiu Carlos – e se julgares que, no meu lugar, poderias fazê-lo, sem que um pequeno remorso to estorvasse, eu obedeço-te e… não irei.
Jenny permanecia calada.
– Então? – repetiu Carlos.
– Que queres que te responda, Charles? Seria sem hesitação que eu te diria «vai», se estivesse convencida de que é esse sentimento de generosidade o que te chama lá.
– Então duvidas do que eu disse?
– Não. Mas duvido, e há muito, do conhecimento que tens de ti próprio.