como se estivesse em brasa… E este laço?… não vês este laço que me deitaram ao pescoço?… não vês como está apertado?… sufoca-me!… Ah!… ai!…
E, respirando a custo, apertava com ânsia o braço de Carlos, que a segurava.
– Então, Kate, vê se descansas – dizia ele –; eu vou já mandar tirar-te tudo isso que te aflige assim…
– Então… manda… manda! Por compaixão, Dick, manda; não deixes martirizar assim a velha Kate!… Por amor de teus filhos, Dick! Eu não tenho forças para sofrer tanto! Estou muito velha, Dick, muito velha!… Tem compaixão de mim!…
E rompia em soluços tão expressivos de dor, que até as criadas não foram superiores à comoção.
Depois encostou a cabeça ao ombro de Carlos, dizendo-lhe ao ouvido, com expressão de susto e de mistério:
– Foram elas que me fizeram todo este mal, não foram?
– Não; sossega…
– Foram! foram, sim! – bradou, elevando a cabeça com violência e inflamando-se-lhe outra vez o olhar, que parecia despedir faíscas, como sempre que era contrariada.
– Pois foram, foram; mas…
– Então não fiquemos aqui. Vamos outra vez para a Inglaterra, Dick. Para que me trouxeste tu para esta casa? Para quê?
– Descansa, que havemos de ir; mas é preciso que estejas sossegada.
– Estou… não vês que estou?… Mas… não me deixes só, não? – acrescentava, com entonação de súplica, quase infantil.
– Então não vês aqui tanta gente?
– Não a quero. Manda-a embora; a todos… manda-os a todos embora!… Eu quero estar só contigo…
– Mas…
– Manda-os embora, por amor de Deus, manda-os embora!
Carlos não teve coração para resistir a este pedido da louca.
À sua ordem saíram as criadas do quarto, deixando Carlos só com ela.
– Fecha, fecha essa porta, para que não entrem outra vez, fecha.
Carlos fechou a porta.
– E agora vem cá; senta-te aqui, ao pé de mim; eu não posso dormir, se tu aqui não estás… E eu queria dormir… Tenho sono.