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Capítulo 27: XXVII - O motivo mais forte

Página 307

Iluminava o aposento apenas a froixa claridade de uma lamparina, quando Carlos entrou ali.

Em volta do leito da velha inglesa agrupavam-se todas as criadas da casa.

A pobre louca estrebuchava tão violentamente com os braços, que elas mal conseguiam segurá-los.

Gesticulando com movimentos desordenados, soltando, entre gritos agudos, palavras sem nexo, reunindo sílabas sem significação, descomposta e com os cabelos em desordem, aquela desgraçada inspirava ao mesmo tempo compaixão e terror.

Carlos aproximou-se do leito.

A velha Kate, vendo chegar uma nova figura junto de si, fitou nele um olhar de expressão quase selvagem e, depois de algum tempo, pôs-se a rir e a bater as palmas, com os modos infantis próprios daqueles estados de imbecilidade.

– Olhem!… É ele!… É ele!… – dizia ao mesmo tempo, reparando cada vez mais em Carlos. – Como veio para aqui?… Inda bem que vieste!… Agora sim!… Quero ver agora quem me fará mal?… Vem cá, Dick, vem cá!…

Agora sim!…

E acenava-lhe para que se aproximasse do leito.

Carlos condescendeu.

– Vejam! vejam! – dizia a velha, passando as mãos pelos cabelos de Carlos. – É outra vez o Dick que eu conheci… Este sim!… Já não tem nenhuns cabelos brancos… Este sim… Eu bem dizia que havia de voltar. O outro não era verdadeiro… Agora já não receio esses malditos, que me têm aqui presa há tanto tempo!… Que venham!… Tu não me hás-de deixar só com eles outra vez, Dick, não? Olha que me matam!

– Sossega, Kate, sossega – disse Carlos carinhosamente. – Ninguém te quer fazer mal.

– É porque tu não sabes ainda o que eles me têm feito!… Olha; repara… Não vês o cadeado que me puseram aos pés?… Nem os posso mover, nem os sinto!… E agora… meteram-me aqui no peito um ferro… aqui… cá o sinto dentro… Arde,

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pág. 307 (Capítulo 27)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 307

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432