Iluminava o aposento apenas a froixa claridade de uma lamparina, quando Carlos entrou ali.
Em volta do leito da velha inglesa agrupavam-se todas as criadas da casa.
A pobre louca estrebuchava tão violentamente com os braços, que elas mal conseguiam segurá-los.
Gesticulando com movimentos desordenados, soltando, entre gritos agudos, palavras sem nexo, reunindo sílabas sem significação, descomposta e com os cabelos em desordem, aquela desgraçada inspirava ao mesmo tempo compaixão e terror.
Carlos aproximou-se do leito.
A velha Kate, vendo chegar uma nova figura junto de si, fitou nele um olhar de expressão quase selvagem e, depois de algum tempo, pôs-se a rir e a bater as palmas, com os modos infantis próprios daqueles estados de imbecilidade.
– Olhem!… É ele!… É ele!… – dizia ao mesmo tempo, reparando cada vez mais em Carlos. – Como veio para aqui?… Inda bem que vieste!… Agora sim!… Quero ver agora quem me fará mal?… Vem cá, Dick, vem cá!…
Agora sim!…
E acenava-lhe para que se aproximasse do leito.
Carlos condescendeu.
– Vejam! vejam! – dizia a velha, passando as mãos pelos cabelos de Carlos. – É outra vez o Dick que eu conheci… Este sim!… Já não tem nenhuns cabelos brancos… Este sim… Eu bem dizia que havia de voltar. O outro não era verdadeiro… Agora já não receio esses malditos, que me têm aqui presa há tanto tempo!… Que venham!… Tu não me hás-de deixar só com eles outra vez, Dick, não? Olha que me matam!
– Sossega, Kate, sossega – disse Carlos carinhosamente. – Ninguém te quer fazer mal.
– É porque tu não sabes ainda o que eles me têm feito!… Olha; repara… Não vês o cadeado que me puseram aos pés?… Nem os posso mover, nem os sinto!… E agora… meteram-me aqui no peito um ferro… aqui… cá o sinto dentro… Arde,