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Capítulo 28: XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto

Página 315

Aproximou-se a noite.

José Fortunato foi pontual.

Cecília estava cada vez mais agitada; o coração era-lhe disputado por esperanças, misturadas de receios, de ver chegar Carlos à hora prometida, e por o pressentimento, que lhe segredava que ele não viria aquela noite.

A impaciência que daqui lhe nascia no espírito revelava-se nas mais pequenas coisas. Quanto mais se fechava a noite, tanto mais era para notar em Cecília aquela espécie de excitação nervosa em que as ocorrências do dia a haviam lançado.

Chegou a ser cruel para com José Fortunato.

Às vezes, até as respostas que dava ao pai saíam-lhe com certo azedume, de que imediatamente se arrependia, empregando depois tanto ardor nas desculpas, que ainda mais afligiam e inquietavam o velho.

Segundo o costume, era ainda à doença, e só à doença, que ele atribuía aquilo tudo, e por vezes, chamando a filha a si, insistiu, depois de a beijar, em lhe tomar o pulso.

Manuel Quintino, que não entendia coisa alguma de organizações nervosas, julgava ver na frequência das pulsações em Cecília um sintoma evidente de febre e, por sua vontade, já teria rodeado a filha de todo esse aparato médico, com que, sob pretexto de combater uma doença, tantas vezes se agravam incómodos ligeiros.

Deram sete, oito, nove horas, e Carlos não aparecia.

A Sr.a Antónia andava com ares triunfantes. José Fortunato trocava olhares de inteligência com ela.

– Estou muito admirado da demora de Carlos! – dizia Manuel Quintino. – Está decidido que não vem.

– Será melhor trazer o chá – lembrou Antónia.

– Será melhor esperar que lho mandem trazer – acudiu Cecília com frieza.

Manuel Quintino, ao ouvir o tom da resposta, fixou tristemente os olhos na filha.

Estranhava-a.

– O Sr. Carlos teve pelos modos hoje outras distracções – observou José Fortunato.

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pág. 315 (Capítulo 28)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 315

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432