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Capítulo 28: XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto

Página 314

Cecília, conquanto lhe parecessem exageradas as opiniões da criada, sentia que se lhe ia enlutando o coração ao ouvi-la; e que toda aquela disposição para rir e cantar, com que lhe principiara o dia, se lhe estava transformando em irresistível desejo de chorar.

No estio dos nossos climas amanhece às vezes o dia puro e formosíssimo; o céu é azul; resplendentes os raios do Sol; tépida e perfumada a viração, que agita as folhas dos arvoredos; pouco a pouco, parece que o Sol desmaia; que desbota o azul do céu; que nos abafa a atmosfera inflamada; acumulam-se no horizonte, e espalham-se depois por todo o firmamento, nuvens de um azulado de chumbo –; forma-se a trovoada.

Esta manhã de Cecília foi bem semelhante a um destes dias de Verão.

Quando Antónia acabou de expor as conceituosas reflexões a respeito do carácter e vida de Carlos, e de provar à saciedade ser ele possuidor das piores qualidades deste mundo, Cecília separou-se subitamente dela e correu a fechar-se no quarto.

Foi com as faces pálidas e com os olhos vermelhos que ela apareceu diante do pai ao jantar. Contrastava tanto com estes vestígios de tristeza o sorriso a que pretendia obrigar os lábios, que o efeito era mais triste ainda.

Todo se alvoroçou o coração de Manuel Quintino, ao vê-la; tão contente pela manhã, e agora assim! Olhava para a filha, mas não se atrevia a interrogá-la.

Cecília bem fez por se mostrar jovial; falou sempre durante o jantar, mas havia tanto de fictício naquela vivacidade, que ninguém se podia iludir, quanto mais o pai!

Reinou, durante todo o dia, entre Manuel Quintino e a filha aquela espécie de mútua desconfiança, que se dá sempre com duas pessoas, quando há entre elas um segredo, guardado por uma e suspeitado por outra, e no qual ambas evitam falar.

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pág. 314 (Capítulo 28)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 314

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432