– E eu que o diga – acrescentou Antónia.
– Que diabo estão vocês a rosnar? – perguntou Manuel Quintino.
– É que… – ia Antónia a explicar-se, quando Cecília a interrompeu.
– Ande, Antónia, ande; traga então o chá, ande; avie-se.
E disse isto com a impaciência de quem não admitia demoras.
Antónia obedeceu. Cecília deixou também por um pouco a sala. O Sr. José Fortunato aproveitou o ensejo para fazer o seu amigo ciente do que havia, em relação a Carlos.
Muito contra o que esperava, em vez de o ver indignado e horrorizado quase, achou-o com umas disposições para levar o caso a rir, que o maravilharam.
– Aquela cabeça não toma rumo! – dizia Manuel Quintino. – Nem eu sei como por tanto tempo aturou o serviço do escritório! E olhe que foi bom e real serviço o que ele fez! Inda estou para saber como aquele diabo de rapaz pôde em tão pouco tempo fazer o que a muitos leva anos! Mas então com que… esta manhã… Hem?… Fugiu o pássaro da gaiola? E de carruagem! Fugirá a sobredita senhora com o rapaz para o deserto? Eh! eh! eh!… Bem; então… nesse caso… vamos nós tomando o nosso chá, Sr. Fortunato, vamos. Já o podiam ter dito; escusávamos de ter alterado as horas…
Quando Cecília voltou à sala, inda Manuel Quintino ria, a bom rir.
– Cecília – disse-lhe ele – vamos ao nosso chá; voltamos hoje aos nossos antigos hábitos, filha. Isto de pássaros novos fogem, pilhando a gaiola aberta… Os que ficam são estes, como o Sr. José Fortunato, que já estão trôpegos de todo… Eh! eh! eh!…
O Sr. José Fortunato não gostou demasiadamente da imagem. Manuel Quintino prosseguiu:
– Aqui o amigo contou-me agora a história de uma certa carruagem e de um certo rapaz, que Antónia lhe disse… é muito engraçada… Eh! eh! eh!
– Eh! eh! eh! – fez o Sr. José Fortunato também – mas ficou-lhe bastante caro o entrar no dueto, visto que Cecília o castigou, dizendo:
– Engraçada? Então é por excepção.