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Capítulo 29: XXIX - Os amigos de Carlos

Página 332

– Deves-nos uma confidência – tornou-lhe o do sofá, tomando uma posição ainda mais orientalmente cómoda.

– E uma satisfação – acrescentou outro, empunhando um florete, e pondo-se em posição de esgrima.

Carlos nunca se sentira de tão má vontade para com os seus amigos.

– A coisa é fácil de explicar – disse ele secamente. – Sabem que sou, sempre fui, homem de caprichos. A agradável convivência dos meus amigos principiara a enfastiar-me de morte. Resolvi pois furtar-me ao prazer – invejável – de os ver. Aí têm. Passando-me isto, encontrar-me-ão de novo talvez, e talvez que não.

– Nada, nada. A Câmara, ouvidas as explicações do ministro, não se dá por satisfeita, nem passa à ordem do dia – replicou o do florete. – Há ainda coisas a esclarecer. Você deve-nos um relatório. Aquela célebre máscara, aquele misterioso dominó, que prometeu seguir até o fim do mundo, nas vésperas da sua sequestração? Nunca mais se falou em tal, e há quem insista em ver aí o princípio de tão súbita conversão.

Carlos recebeu uma desagradável impressão com a importuna lembrança e sentiu vontade de tomar a sério a posição bélica que o interpelante conservava, e fazê-lo arrepender de possuir tão boa memória.

Limitou-se porém a responder:

– Não me perguntem coisa alguma a esse respeito, porque nada lhes posso dizer.

– Ah! Mistérios!… Ai, amor! amor! – exclamou o do espelho, e continuou, cantando:

Dove non ride amore

Giorno non v’ha sereno…

– Deixem Carlos; um juramento, feito a horas mortas, tendo por testemunhas as estrelas, e uns olhos, mais brilhantes ainda, é sagrado.

– Nada posso dizer, porque nada sei – acudiu Carlos, despeitado pela interpretação que deram às suas primeiras palavras.

– E nada sabes, porque nada viste? Meu caro, a tua discrição vai sendo de mau gosto – disse o do sofá, executando um movimento, em virtude do qual lhe subiram as pernas cinquenta centímetros e lhe desceu outro tanto a cabeça.

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pág. 332 (Capítulo 29)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 332

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432