De resto, traz de ordinário consigo esta moléstia sérias complicações.
Carlos mordia os lábios de impaciência; o amigo continuou, entre as gargalhadas dos outros:
– Os sintomas são variados. Em geral, o doente tem fisionomia de parvo característica; no intervalo dos acessos cai em uma espécie de beatífica idiotia, da qual nem os cáusticos o arrancam. Nos paroxismos chega a arrepelar os cabelos, a amarrotar os colarinhos, a soltar gritos, que bolem com a vaidade dos tigres, e arrulhar de maneira que causa o desespero dos pombos. Nos casos mais fortes, a doença toma um carácter de malignidade e o doente faz-se poeta. Neste estado o médico perde as esperanças e reclama os sacramentos… do matrimónio.
– E o tratamento? E o tratamento? – perguntaram alguns, rindo.
– A higiene é tudo, meus amigos; mal vai, se a profilaxia não atalhou a moléstia. Nas Confissões de João Jacques alude-se, como preservativo, às matemáticas. Não aprovo. Para mim é averiguado que as matemáticas têm só por efeito o imprimir à doença a feição perniciosa. O matemático amoroso é a mais rebelde espécie de doente de que há notícia. Entra nos incuráveis. Os meus preceitos são outros. Recomendo a gastronomia, porque as funções do estômago e do coração são antagonistas. Aconselho a leitura do Feliz Independente, e de todas as obras de bom senso – antídoto do amor. – Mas, se a moléstia, apesar de tudo, progride, então o específico mais heróico para radicalmente a curar…
– Qual é? – perguntaram muitos simultaneamente.
– O casamento.
De todos os circunstantes foi Carlos o único que não aplaudiu a dissertação do amigo. Passeava a passos largos com impaciência crescente.
– Peço-lhes, por especial favor, que me deixem em paz – disse ele, acalmada a trovoada de gargalhadas.