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Capítulo 29: XXIX - Os amigos de Carlos

Página 331
De resto, traz de ordinário consigo esta moléstia sérias complicações.

Carlos mordia os lábios de impaciência; o amigo continuou, entre as gargalhadas dos outros:

– Os sintomas são variados. Em geral, o doente tem fisionomia de parvo característica; no intervalo dos acessos cai em uma espécie de beatífica idiotia, da qual nem os cáusticos o arrancam. Nos paroxismos chega a arrepelar os cabelos, a amarrotar os colarinhos, a soltar gritos, que bolem com a vaidade dos tigres, e arrulhar de maneira que causa o desespero dos pombos. Nos casos mais fortes, a doença toma um carácter de malignidade e o doente faz-se poeta. Neste estado o médico perde as esperanças e reclama os sacramentos… do matrimónio.

– E o tratamento? E o tratamento? – perguntaram alguns, rindo.

– A higiene é tudo, meus amigos; mal vai, se a profilaxia não atalhou a moléstia. Nas Confissões de João Jacques alude-se, como preservativo, às matemáticas. Não aprovo. Para mim é averiguado que as matemáticas têm só por efeito o imprimir à doença a feição perniciosa. O matemático amoroso é a mais rebelde espécie de doente de que há notícia. Entra nos incuráveis. Os meus preceitos são outros. Recomendo a gastronomia, porque as funções do estômago e do coração são antagonistas. Aconselho a leitura do Feliz Independente, e de todas as obras de bom senso – antídoto do amor. – Mas, se a moléstia, apesar de tudo, progride, então o específico mais heróico para radicalmente a curar…

– Qual é? – perguntaram muitos simultaneamente.

– O casamento.

De todos os circunstantes foi Carlos o único que não aplaudiu a dissertação do amigo. Passeava a passos largos com impaciência crescente.

– Peço-lhes, por especial favor, que me deixem em paz – disse ele, acalmada a trovoada de gargalhadas.

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pág. 331 (Capítulo 29)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 331

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432