Uma Família Inglesa - Cap. 29: XXIX - Os amigos de Carlos Pág. 333 / 432

– Eureka! Eureka! – bradou um que se aproximara da mesa – uma prova irrecusável do crime!… O instrumento do delito! Uma carta!…

A estas palavras Carlos estremeceu. O da descoberta empunhava com gesto triunfante a carta escrita momentos antes a Cecília.

– Uma carta! E de que espécie? – perguntava o coro.

– Ora! papier rose et odeur enivrant – respondeu o outro, aproximando-a do nariz, com gesto expressivo.

Carlos teve vontade de atirar pela janela fora aquele seu amigo, que prosseguiu:

– E o sobrescrito diz…

– O quê?… o quê?… – perguntaram todos, acercando-se dele com ardente curiosidade.

– É indiscrição de mais! – exclamou Carlos, levantando-se para lhe arrancar a carta das mãos.

Os outros detiveram-no.

– Que é isto? Donde te surgiram, à última hora, esses escrúpulos de donzela ingénua?

– Proíbo-lhes que… – dizia Carlos, esforçando-se por se lhes livrar dos braços.

– Ora deixa-te de pieguices – respondiam eles, rindo e continuando a segurá-lo. – Lê daí tu depressa, antes que o leão se solte. Olha que está furioso! Não imaginas.

– «Excelentíssima senhora» – lia vagarosamente o da carta, como para prolongar mais a cena que o divertia.

– Ah… Ex… ce… len… tís… si… ma! – repetiam os outros, acentuando cada sílaba.

– Cecília de… – continuava o que lia.

– Ce… cí… lia! Ó nome musical!

– Filarmónica invocação!

– Santa patrona da harmonia!

– Inspiradora da harpa!

Por um movimento mais enérgico e imprevisto, Carlos conseguiu afastar o grupo que lhe estorvava a passagem e, correndo à mesa, tirou finalmente a carta das mãos do que a havia descoberto.

– Há certas familiaridades, para que não autorizo ninguém – disse ele, pálido e agitado de indignação e de raiva.

Depois tocou a campainha com violência.





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