– Eureka! Eureka! – bradou um que se aproximara da mesa – uma prova irrecusável do crime!… O instrumento do delito! Uma carta!…
A estas palavras Carlos estremeceu. O da descoberta empunhava com gesto triunfante a carta escrita momentos antes a Cecília.
– Uma carta! E de que espécie? – perguntava o coro.
– Ora! papier rose et odeur enivrant – respondeu o outro, aproximando-a do nariz, com gesto expressivo.
Carlos teve vontade de atirar pela janela fora aquele seu amigo, que prosseguiu:
– E o sobrescrito diz…
– O quê?… o quê?… – perguntaram todos, acercando-se dele com ardente curiosidade.
– É indiscrição de mais! – exclamou Carlos, levantando-se para lhe arrancar a carta das mãos.
Os outros detiveram-no.
– Que é isto? Donde te surgiram, à última hora, esses escrúpulos de donzela ingénua?
– Proíbo-lhes que… – dizia Carlos, esforçando-se por se lhes livrar dos braços.
– Ora deixa-te de pieguices – respondiam eles, rindo e continuando a segurá-lo. – Lê daí tu depressa, antes que o leão se solte. Olha que está furioso! Não imaginas.
– «Excelentíssima senhora» – lia vagarosamente o da carta, como para prolongar mais a cena que o divertia.
– Ah… Ex… ce… len… tís… si… ma! – repetiam os outros, acentuando cada sílaba.
– Cecília de… – continuava o que lia.
– Ce… cí… lia! Ó nome musical!
– Filarmónica invocação!
– Santa patrona da harmonia!
– Inspiradora da harpa!
Por um movimento mais enérgico e imprevisto, Carlos conseguiu afastar o grupo que lhe estorvava a passagem e, correndo à mesa, tirou finalmente a carta das mãos do que a havia descoberto.
– Há certas familiaridades, para que não autorizo ninguém – disse ele, pálido e agitado de indignação e de raiva.
Depois tocou a campainha com violência.