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Capítulo 3: III - Na Águia de Ouro

Página 34
Lá essa qualidade tem ele. Logo os primeiros versos:

Nel mezzo del cammin di nostra vita…

Acho porém dotes superiores em Boccacio. – Então que quer? É um espírito encarnado em corpo de menor vulto, mas… você já leu o Decameron? Deve ler. É um livro excepcional. Há nele alguma coisa que vai além do século em que foi escrito. E esse é o sinal supremo do génio. As imitações de La Fontaine são pálidas. Desengane-se. La Fontaine, afinal, era contemporâneo de Luís XIV. Naquela corte não podia existir a verdadeira inspiração. Abomino a literatura desse tempo. Detesto Luís XIV e o seu século. – Pausa. – Molière salva-se, mas porquê? Porque o género cómico tem uma índole especial. Não é a inspiração que o regula; é a análise, é a reflexão filosófica.

– Eu aposto – berrava um político – que, se os aliados se meterem a dar o assalto a Sebastopol, não fica um só vivo.

– Veremos – questionava outro. – Deixa Omer-Paxá ocupar a estrada de Sebastopol a Sinferopol e depois falaremos. Olha que ele desembarcou na Eupatória com 40 000 homens.

O jornalista continuou:

– Há um único homem que admiro, em qualidades cómicas, mais do que Molière: é Rabelais. Oh! o Rabelais é o meu livro! Há três livros que nunca tiro da minha banca de estudo, nem da minha mala de viagem.

– É a Bíblia, Os Lusíadas e o Paulo e Virgínia. Já sei. É o costume – disse enfim Carlos, levantando-se, já impaciente e procurando subtrair-se à torrente de perguntas, respostas, apreciações críticas, cotejos e citações que saíam, em tom categórico, da palavrosa boca do vizinho.

– Não há tal – respondeu este, porém, tomando-lhe o braço e levantando-se igualmente. – Esses são a fórmula dos três grandes sentimentos da alma – o da religião, da pátria e do amor; – bem o sei; mas, confesso-lhe, o que, por temperamento, mais me seduz é a pintura social e a análise das paixões, e só três homens as fizeram bem: Lesage, Richardson e Rabelais.

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pág. 34 (Capítulo 3)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 34

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432