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Capítulo 3: III - Na Águia de Ouro

Página 33
que fosse Lamartine quem cobiçasse o Childe Harold! Força de contrastes! Aquele Childe Harold! Aquele Childe Harold! Que me diz você àquele Childe Harold? É o único poema verdadeiramente romântico que se tem escrito até hoje. – Pausa. – Perdoo-lhe o Poor, paltry slaves! com que nos mimoseia. E note que eu não sou admirador cego de Byron.

Nova e maior pausa, durante a qual o orador acendeu um charuto.

Carlos continuava calado.

Percebeu então que num grupo vizinho se dizia:

– Quem tem uma bonita parelha é o visconde de Custóias.

– Melhor é a do Manuel Galveias.

E mais adiante:

– Perdão, menino; mas para mim a síntese não é uma mera consideração dos factos analíticos; a síntese precede a análise, e dá a esta a força que vai buscar ao mundo interior, isto é, verte nela o imutável, os princípios evidentes; Kant…

O jornalista continuava:

– Eu não me regulo pela crítica convencional. É o meu sistema. Não me resolvo a entoar amen à opinião dos povos. – Pausa. – Por exemplo, tenho a sinceridade e a coragem de confessar que não me fascina Dante.

Grande pausa.

– Padre Manuel – dizia nesta ocasião, do fundo da mesa, um dos convivas, apontando para o cálice que levava aos lábios. – Ecce Deus qui lætificat juventutem meam.

O padre sorriu, mas não disse nada. Comia.

– Porque afinal de contas – prosseguiu o discursador – você há-de concordar comigo; Dante é um rapsodista quase como Homero. Que é a Divina Comédia, senão o compêndio das crenças religiosas daquele tempo?

Pausa.

– O que há a respeito da revolução carlista em Pamplona? – ouviu Carlos perguntar.

– Nada mais se sabe por enquanto, apenas que estão implicados alguns sargentos, cabos e paisanos – respondia outra voz.

E continuava a dissertação literária:

– O grande merecimento de Dante é o da forma.

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pág. 33 (Capítulo 3)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 33

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432