que fosse Lamartine quem cobiçasse o Childe Harold! Força de contrastes! Aquele Childe Harold! Aquele Childe Harold! Que me diz você àquele Childe Harold? É o único poema verdadeiramente romântico que se tem escrito até hoje. – Pausa. – Perdoo-lhe o Poor, paltry slaves! com que nos mimoseia. E note que eu não sou admirador cego de Byron.
Nova e maior pausa, durante a qual o orador acendeu um charuto.
Carlos continuava calado.
Percebeu então que num grupo vizinho se dizia:
– Quem tem uma bonita parelha é o visconde de Custóias.
– Melhor é a do Manuel Galveias.
E mais adiante:
– Perdão, menino; mas para mim a síntese não é uma mera consideração dos factos analíticos; a síntese precede a análise, e dá a esta a força que vai buscar ao mundo interior, isto é, verte nela o imutável, os princípios evidentes; Kant…
O jornalista continuava:
– Eu não me regulo pela crítica convencional. É o meu sistema. Não me resolvo a entoar amen à opinião dos povos. – Pausa. – Por exemplo, tenho a sinceridade e a coragem de confessar que não me fascina Dante.
Grande pausa.
– Padre Manuel – dizia nesta ocasião, do fundo da mesa, um dos convivas, apontando para o cálice que levava aos lábios. – Ecce Deus qui lætificat juventutem meam.
O padre sorriu, mas não disse nada. Comia.
– Porque afinal de contas – prosseguiu o discursador – você há-de concordar comigo; Dante é um rapsodista quase como Homero. Que é a Divina Comédia, senão o compêndio das crenças religiosas daquele tempo?
Pausa.
– O que há a respeito da revolução carlista em Pamplona? – ouviu Carlos perguntar.
– Nada mais se sabe por enquanto, apenas que estão implicados alguns sargentos, cabos e paisanos – respondia outra voz.
E continuava a dissertação literária:
– O grande merecimento de Dante é o da forma.