Uma Família Inglesa - Cap. 3: III - Na Águia de Ouro Pág. 35 / 432

A criação de Pantagruel e Gargântua é famosa!

– Quem dizes tu que tem uma garganta famosa? – exclamou, voltando-se, um dilettante, por trás de cuja cadeira os dois passavam naquele momento. – Falas da Ponti? Oh! que mulher! Que vocalização! Que sentimento!

– Aí tornas tu com a Ponti – disse um velho rapaz, pronunciado adversário da prima-dona e um da numerosa seita que passa metade do ano a suspirar pelo teatro lírico e outra a dizer sistematicamente mal das companhias escrituradas. – És capaz de sustentar que vai bem na Norma. Se ouvissem a Rossi-Cassi…

– A Rossi-Cassi! Oh! por quem és, desalmado! Não sacudas reputações cobertas pelo pó do tempo! Pff! Que poeira! Vive da actualidade.

– Falar na Rossi com esse entusiasmo de conhecedor equivale a um assento de baptismo feito pelo menos em 1800.

– Nego – bradou embespinhado o velho rapaz.

– Parce sepultis – disse o padre.

– Lascia la donna in pace – trauteou outro dilettante.

Carlos e o jornalista tinham passado adiante! O jornalista ia já a falar em libretos de óperas, em Felice Romani, em Manzoni, no Ei fu! do Cinque Maggio… etc., etc., etc…

Carlos foi retido agora pela mão de um rapaz, junto do qual tinham chegado.

– Aqui está quem nos pode informar – dizia o que o segurava. – Ó Carlos, diz-nos uma coisa: conheces a Laura Viegas?

– Não – respondeu Carlos, distraído.

– Conheces por força. A filha do Viegas, daquele brasileiro que comprou a quinta do Pedroso.

– E então?

– Mas conheces? Bem. Que dote achas tu que terá aquela rapariga?

Carlos encolheu os ombros, significando a sua ignorância, e preparava-se já para seguir para diante, quando outro, a quem igualmente preocupava esta ciência dos dotes, o segurou por sua vez.

– Não tem que ver; o Viegas não lhe pode dar mais de nove contos.





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