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Capítulo 31: XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino

Página 356

– Mas, por outro lado, é também da minha obrigação…

– Pois então diga.

Antónia percebeu a grande indiferença de ânimo em que estava o patrão, e sentiu vontade de instigá-lo um pouco.

– Ora diga-me, Sr. Manuel Quintino, o senhor é cego?

– Julgo que não.

– Pois olhe que o parece. Então não tem conhecido mudança de génio cá na menina?

A pergunta alterou de facto o tom das respostas do velho guarda-livros; foi já voltado para a criada e com vivacidade, que respondeu:

– Tenho, sim, porquê? Você também?…

– Pois pudera! Aquilo são lá os modos dela?

– Não são, Antónia, isso não são.

– Nem para lá caminham.

– E você não sabe o que aquilo será? Ela não se lhe tem queixado de algum mal, de alguma doença?…

– Doença? Ora adeus! Que eu saiba não. Ele há muitas doenças…

– Isso sei eu.

– Pois sim, mas… algumas, em que não pensa é que… Doença do coração.

– Do coração! – exclamou Manuel Quintino, fazendo-se pálido. – Pois Cecília queixou-se do coração? Que diz, mulher?

– Adeus, que me não entende! Quero eu dizer… Olhe… afinal as coisas são assim! A menina tem dezoito anos…

– Olhem que novidade! Isso sei eu; mas queixou-se?…

– Então se sabe, se sabe, Sr. Manuel Quintino, e se se não lembra de mais nada, não sei que lhe faça.

Uma ideia surgiu pela primeira vez ao espírito de Manuel Quintino, e força é confessar que não veio muito cedo.

– Pois será?… – Voltando-se para a criada, acrescentou com modo grave: – Antónia, você diga o que sabe. Bem vê que preciso de olhar por isso. Fale, mulher.

– Pois nesse caso…, Sr. Manuel Quintino – disse a criada, como se, somente convencida destas razões, se resolvesse a falar –, eu não quero encargos de consciência, e, para seu governo, sempre lhe digo que deve vigiar por este negócio.

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pág. 356 (Capítulo 31)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 356

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432